Volume 65, Número 5Setembro/Outubro de 2014

In This Issue

As novas lentes do Oriente Médio // Escrito por Simon Bowcock
Da série "Traços (Traces)" de Rula Halawani, 2013. Fotografias cortesia de Selma Feriani Gallery.

Em meio a mais de uma década de rápido crescimento da arte contemporânea do Oriente Médio, a arte fotográfica tem liderado o caminho. 

Para muitos, a frase "fotografia do Oriente Médio" geralmente significa pouco mais do que imagens fotojornalísticas das zonas de conflito. Esta percepção limitada mudou consideravelmente ao longo da última década, conforme a arte fotográfica do Oriente Médio e África do Norte tornou-se uma das novas estrelas mais brilhantes na constelação da arte contemporânea.  

Fotografia e arte fotográficaEmbora as suas raízes tenham se estabelecido há muito tempo, provavelmente na origem da fotografia propriamente dita, a entrada da arte fotográfica contemporânea do Oriente Médio no cenário mundial pode ser datada de 2004, quando o prestigiado festival anual de fotografia Noorderlicht na Holanda dedicou-se ao mundo árabe, com uma exposição intitulada "Nazar" ("Veja"). Embora na época possa ter parecido ser um evento pontual, uma exibição temática, ela semeou o interesse na arte fotográfica tanto dentro como fora do Oriente Médio que amadureceu junto com outras mídias na arte contemporânea. 

Em 2012, o Victoria & Albert Museum de Londres montou "Luz do Oriente Médio (Light from the Middle East)", um panorama com mais de 30 fotógrafos da região. No ano seguinte, o Look Festival de Liverpool exibiu a "Eu existo de alguma forma (I Exist in Some Way)", uma significativa exposição de fotografias do Oriente Médio, enquanto o Boston’s Museum of Fine Arts nos Estados Unidos apresentou "Ela que conta uma história (She Who Tells a Story)", a primeira grande exibição de fotógrafas do Oriente Médio. Mais recentemente, em março, a FotoFest bienal em Houston realizou uma exposição de fotos de 49 artistas do mundo árabe, uma das maiores exposições de arte árabe de qualquer espécie. Foi especialmente notável por ter mostrado 12 artistas da Arábia Saudita, hoje um dos cenários de arte fotográfica mais crescentes na região. 

Além dessas exposições de alto nível, exposições de grupos e individuais de artistas do Oriente Médio têm se tornado comuns em galerias públicas e privadas em todo o mundo. Mas por que a arte fotográfica contemporânea dessa parte do mundo tem chamado tanta atenção? Para descobrir, eu busquei a opinião de seis dos artistas mais proeminentes da região assim como especialistas do mundo das artes.

Lalla Essaydi, Harem n° 2, 2010. Impressão cromogênea, cortesia da artista e da Edwynn Houk Gallery.
Lalla Essaydi, "Harem n° 2", 2010. Impressão cromogênea, cortesia da artista e da Edwynn Houk Gallery.

LALLA ESSAYDI foi um dos destaques entre os expositores na exibição "Nazar" de 2004, e hoje é uma das mais bem-sucedidas artistas trabalhando em qualquer tipo de mídia do mundo árabe. Suas fotografias podem ser encontradas em dezenas das principais coleções públicas e particulares. Em comum com muitos artistas do Oriente Médio e da África do Norte, Lalla possui uma profunda experiência vivida de um mundo mais vasto, além da região.

"Meu trabalho inclui uma longa e crescente exploração daquilo que constitui a minha própria identidade como artista, mulher, marroquina e alguém que vive no século XXI, onde um certo grau de nomadismo cultural, eu agora vivo no Ocidente, tornou-se de certo modo, a norma", diz ela.

Lalla possui também um vasto conhecimento da história da arte mundial, assim como sobre a própria identidade cultural, suas imagens respondem, em alguns momentos de forma sutil e em outros de forma direta, a séculos de frequente erotização de orientalistas ocidentais ao representarem as mulheres do Oriente Médio.  

"Meu trabalho vai além da cultura islâmica para invocar o fascínio ocidental com o véu e, é claro, o harém, conforme expresso na pintura orientalista", diz ela, acrescentando que muitas das suas fotografias são produtos de elaborada preparação de encenações, e podem levar meses para ser construídas. 

Youssef Nabil,
Youssef Nabil, "Catherine Deneuve, Paris", 2010. Impressão em gelatina de prata colorida à mão, cortesia da The Third Line Gallery e Nathalie Obadia Gallery.

A ascensão da arte fotográfica do Oriente Médio, explica, é um produto do "nomadismo e da modernização globais, da tecnologia e das mídias sociais, e talvez seja por causa da recente agitação no Oriente Médio que sua arte esteja se tornando cada vez mais popular, impulsionada pelo desejo dos artistas em mostrar a uma audiência global a sua interpretação do que está realmente acontecendo lá, bem como uma reflexão dos diversos públicos que estão cada vez mais interessados em conhecer a região sob um novo ângulo". 

YOUSSEF NABIL, nascido no Egito, mas, como Lalla Essaydi, vivendo nos Estados Unidos, foi também um dos luminares da exibição "Nazar" e desde então ganhou fama mundial. Ele montou em quatro continentes várias exposições individuais de suas fotografias tradicionais em preto e branco às quais coloriu à mão utilizando métodos antigos. No princípio de sua carreira no início da década de 1990, enquanto ainda vivia no Egito, Youssef foi fortemente influenciado pela tradição cinematográfica de sua terra natal, que é a mais produtiva do mundo árabe. Em contrapartida, seus temas mais recentes tendem a vir de mais longe, embora muitas vezes mantenham uma conexão com o cinema, como seus recentes retratos de atrizes francesas vestindo um hijab (véu). 

Youssef aponta para os países do Golfo, como grandes condutores da nova visibilidade global da arte contemporânea do Oriente Médio, incluindo a arte fotográfica. "De repente, com o boom econômico de Dubai por volta de 10 anos atrás, eles ajudaram a criar esse canal, colocando os artistas do Oriente Médio no mapa, atraindo espectadores em feiras de arte, em leilões. Primeiro através de Dubai, depois Abu Dhabi e Catar com os museus e coleções. Eles estão dando aos artistas do resto da região uma maneira de mostrar os seus trabalhos".

Além deste impulso, Youssef também considera que simplesmente a hora da região chegou, no que diz respeito à arte. "Já era hora de o mundo conhecer a arte do Oriente Médio, da mesma forma que conhecem a arte chinesa, indiana, latino-americana", diz ele. "Apenas fazia sentido. Parecia ser hora de reconhecer os artistas desta região".

Da série de 2012
Da série de 2012 "Leicestershire", de Mitra Tabrizian. Impressão em papel cromado, cortesia da artista.

Dada a sua popularidade global, talvez não seja surpresa que Youssef Nabil e Lalla Essaydi foram destaque na exibição de 2012 do Victoria & Albert's Museum, que incluiu também artistas não árabes da região, tais como MITRA TABRIZIAN, amplamente exibida, e atualmente professora de fotografia na universidade de Westminster.

"Por ter nascido no Irã e sido educada na Inglaterra, as idas e vindas entre estes países me deram a vantagem de observar ambas as culturas de um ponto de vista externo," explica Mitra. "O fato de não pertencer aqui ou lá proporciona uma sensação de desprendimento, bem como um engajamento, e portanto talvez uma compreensão distinta". 

Produzidas tanto na Inglaterra como no Irã, as obras de Mitra contêm uma quantidade razoável de comentários sociais e ela cita, também intelectuais, bem como influências artísticas desde o escritor britânico, artista e teórico da fotografia, Victor Burgin, a quem ela estudou, até o filósofo francês e teórico crítico Jean Baudrillard, e o intelectual britânico alemão Berthold Brecht. Se os espectadores não conseguem em todas as ocasiões identificar onde as suas imagens foram feitas, no "Oriente" ou "Ocidente", não há problema, de acordo com o ponto de vista da artista. Da sua série intitulada "Another Country (Outro país)", que se concentra em uma comunidade muçulmana em Londres, diz ela, "foi muito bem recebida, e o público estava confuso se havia sido feita no Ocidente ou Oriente".

Série de 1994,
Série de 1994, "Mes Arabies", de Samer Mohdad. Impressão fotográfica, cortesia do artista.
Da série de 1999 a 2003, Hajj, de Reem Al Faisal. Impressão de gelatina de prata, 76 cm x 100 cm, cortesia da Howard Greenberg Gallery.
Da série de 1999 a 2003, "Hajj", de Reem Al Faisal. Impressão de gelatina de prata, 76 cm x 100 cm, cortesia da Howard Greenberg Gallery.

Mitra acredita que o perfil ascendente das artes fotográficas do Oriente Médio tem causas complexas, incluindo a confusão, ou "a incapacidade de compreender a situação política", que resulta em "interesse nos artistas daquela região e como eles podem interpretar ou encarar a vida". Ela também tem uma hipótese mais pragmática: "Uma vez que a atmosfera atual do mercado parece estar ditando a arte contemporânea, o Oriente é uma nova área de exploração e aproveitamento", diz ela.

Seu ponto de vista sobre economia é facilmente repetido por Francis Hodgson, crítico de fotografia do Financial Times de Londres e antigo chefe do departamento de fotografias da Sotheby's, uma das casas de leilões líderes mundiais. "Todos os setores têm visto muito mais do Oriente Médio nos últimos anos, desde as corridas de cavalo ao setor bancário, do turismo a uma variedade de outras atividades artísticas," cita Francis. "A razão óbvia é o dinheiro. A despeito de sua reputação caricatural de reacionário com valores colonialistas e estruturas de classe pré-revolucionária, o Ocidente rico é extremamente adaptável e flexível, você ficaria espantado em como os esnobes de instituições ocidentais se adaptam tão bem ao Oriente Médio quando estão atrás de dinheiro. Parte do preço a pagar é "se interessar" pelas expressões da cultura local. O mesmo ocorre com a China, a Índia e até mesmo a Rússia. Onde há dinheiro emergente, há muito mais interesse".

Da série de 2004
Da série de 2004 "Intimidade V (Intimacy V)", de Rula Halawani. Impressão fotográfica, cortesia da Selma Feriani Gallery.

Consequentemente, diz ele, alguns artistas do Oriente Médio estão muito atentos quanto a isso. "Pode ser que o centro de gravidade do mundo da arte esteja em movimento, como periodicamente acontece. Mas eu o vejo com certa precaução. O fato é que, enquanto um grande volume de atividade fotográfica muito interessante e de alta qualidade está sendo gerada no Oriente Médio e África do Norte, ainda está sendo gerado para consumo principalmente em Nova York, Londres e Paris. Uma grande proporção do 'valor' da arte contemporânea do Oriente Médio só é de fato validada pelo sucesso naquelas capitais mais antigas", cita. "Temos de ver que existe isto de exportar arte, de arte feita para ser apreciada em outros países, que não os países onde foram originadas".

Mesmo assim, ele está empenhado em taxar o termo "Arte fotográfica do Oriente Médio" como excessiva simplificação. "Eu não creio que alguém possa facilmente agrupar, por exemplo, o boom da arte fotográfica iraniana, o novo museu da fotografia em Marrakech, o jornalismo civil no Cairo ou o aumento da arte-manifesto fotográfica na Palestina", diz ele.  

É esta complexidade que ajudou a atrair a cofundadora da FotoFest, Wendy Watriss, para a arte fotográfica da região. "Eu acho o trabalho intensamente inteligente", diz ela. Eu não as vejo como peças monoestruturais como a 'fotografia'. A maior parte dos artistas na FotoFest transitam por vários tipos de mídia em movimento e estáticas, em duas dimensões e multidimensionais. Assim como suas obras, eles são artistas cosmopolitas. Suas obras consistem de várias camadas com muitos aspectos diferentes do histórico político, cultural e geográfico. São trabalhos sofisticados".

"Siraat" ("O caminho"), 2010, de Abdulnasser Gharem. Painel iluminado personalizado, 73 cm x 123 cm, cortesia da Ayyam Gallery.

O artista saudita ABDULNASSER GHAREM, cujas obras complexas muitas vezes envolvem a fotografia como elemento único, é um exemplo dessa sofisticação. Atualmente com 41 anos de idade, Abdulnasser aprendeu por conta própria a história da arte mundial durante seus anos de formação. "A Internet apareceu no final dos anos 90", explica. "Eu comecei a me educar desde o início. Naquela época, ocorreram muitas guerras na região. E a guerra afeta os artistas. Após a Primeira Guerra Mundial, houve o Dadaísmo, o Construtivismo: após a Segunda Guerra, o movimento Fluxus. Eu me vi com uma opinião e quis expressá-la".

Estes movimentos globais têm inspirado Abdulnasser a produzir obras que se identificam a princípio com espectadores árabes mais do que com os ocidentais. Isso é evidente em suas elaboradas pinturas com carimbos que com frequência incorporam fotografias. "No Oriente Médio as pessoas sofrem com a burocracia", explica. "Nada acontece sem os carimbos". 

Abdulnasser, que já expôs em nas principais exposições de arte mundiais como a Bienal de Veneza e a Sharjah Biennial, tem suas próprias ideias sobre o atual interesse na arte fotográfica do Oriente Médio. "Após o 11 de setembro, o Ocidente e Oriente estão mais curiosos em conhecer um ao outro", diz ele. "Você quer saber por que as pessoas gostam de arte? Normalmente as pessoas obtêm informações a nosso respeito através da mídia. Porém, quando elas veem obras de arte, elas podem obter informações de nação para nação. Não há intermediários. É algo puro. Ninguém controla o artista ou a sua mensagem". Quanto a isto, Abdulnasser Gharem investiu naquilo que acredita e ajudou a fundar a organização para artistas Edge of Arabia em 2003, que desde então se tornou uma voz de liderança para a arte contemporânea saudita. 

Da série Pátrias ilusórias (Elusive Homelands), A família Awad (The Awad Family), 1999-2000 de Camille Zakharia. Foto-colagem, cortesia do artista.
Da série "Pátrias ilusórias (Elusive Homelands)", "A família Awad (The Awad Family)", 1999-2000 de Camille Zakharia. Foto-colagem, cortesia do artista.

A sofisticada e complexa utilização de várias mídias é evidente também na arte fotográfica de CAMILLE ZAKHARIA, situado no Bahrein, que incorpora elementos e materiais, tais como a disposição em camadas, colagem e caligrafia. Assim como Abdulnasser Gharem, Camille Zakharia apareceu nas exposições tanto do Victoria & Albert quanto da FotoFest, e montou várias exposições individuais na América do Norte, Europa e Oriente Médio. O seu trabalho, diz ele, "é de natureza introspectiva. Tendo deixado o Líbano, a minha terra natal, há cerca de 30 anos, os temas sobre o lar, identidade, o sentimento de pertencer, o sentido da própria identidade e lugar permanecem sendo tópicos próximos ao coração". Por exemplo, "Histórias do beco (Stories from the Alley)" é uma série criada por ele em 1998, enquanto estava vivendo no Canadá. "Eu sentia imensa nostalgia do Oriente Médio, e especialmente de Bahrein. Como eu ouvia constantemente Umm Kulthum [cantora clássica egípcia], que é uma fonte de inspiração, eu incorporei várias de suas canções como pano de fundo".

Quanto à fotografia, Camille cita fotógrafos documentaristas de fora do Oriente Médio como suas principais inspirações, incluindo Eugène Atget, August Sander, Diane Arbus e Alec Soth. "Com relação aos meus movimentos favoritos, encontram-se especialmente Dada e Hannah Höch", acrescenta.

Da mesma forma que Youssef Nabil, Camille Zakharia considera que o Zeitgeist (espírito da época) e a infraestrutura da arte estão impulsionando os artistas fotográficos do Oriente Médio. "À medida que o mundo começa a se abrir para si mesmo, penso que é também hora de descobrir os territórios menos conhecidos", pondera. "Obviamente existem outras razões mais óbvias, incluindo a abertura de muitas galerias e museus no Oriente Médio e nos estados do Golfo particularmente na última década, alimentando a criatividade de muitos artistas".

Kesh Angels, de Hassan Hajjaj 2010/1431. Edição de 7. Impressão em Lambda metálica em 3 mm de alumínio branco, 101 cm x 137 cm, cortesia de Taymour Grahne Gallery.
"Kesh Angels," de Hassan Hajjaj 2010/1431. Edição de 7. Impressão em Lambda metálica em 3 mm de alumínio branco, 101 cm x 137 cm, cortesia de Taymour Grahne Gallery. 

Como Camille e Abdulnasser, o artista marroquino-inglês HASSAN HAJJAJ, apareceu em exposições em Londres e Houston, e diz, "sempre fui um grande fã de todos os tipos de fotografia, histórica e contemporânea, mas os fotógrafos que mais me inspiraram foram Henri Cartier-Bresson, Malick Sidibé, Samuel Fosso, Robert Capa, David LaChapelle e Shirin Neshat", uma lista que enumera quatro continentes de origem. 

Assim como a colega marroquina Lalla Essaydi, a interação de elementos "Orientais" e "Ocidentais" é fundamental para Hassan, alimentado por sua sensibilidade com a "distinção" exótica, com a qual o mundo exterior tende a ver sua pátria. 

Eu não as vejo como peças monoestruturais assim como a 'fotografia'. A maior parte dos artistas na exposição FotoFest 2014 transitam por vários tipos de mídia... Assim como suas obras, eles são artistas cosmopolitas. –Wendy Watriss"Eu me interessei por fotografia há mais de 20 anos após assistir a uma sessão de fotos europeia em Marrocos", explica. "Foi estranho para mim ver a paisagem, a arquitetura e os moradores sendo utilizados, talvez involuntariamente, como um exótico cenário ou figurantes, enquanto todos os modelos, roupas, equipe da revista e leitores eram ocidentais. Ninguém naquela época estava de fato interessado em nós". Seu trabalho ganhou grande popularidade em parte porque suas respostas a este problema muitas vezes são retratadas com humor e um sentido de brincadeira junto com aquilo que pode ser chamado mais ironicamente de "comentário social." Em cada série, ele diz, "Eu queria mostrar meu Marrocos—sim, velhas tradições ainda existem, mas veja quão modernos, espirituosos e combativos são os personagens!".

Vivendo no Reino Unido e representado pelas principais galerias, bem como em Nova York e Dubai, ele vê o interesse global na arte fotográfica do Oriente Médio apoiado por novas infraestruturas regionais e auxiliado pela Internet e pela prosperidade econômica regional. "O talento sempre esteve ali, porém simplesmente não havia infraestrutura para demonstrá-lo", diz ele. "Você precisa de museus, galerias de arte, escolas de arte, boas transportadoras, bons autores, bons materiais, boas publicações, revistas, jornais, críticos, pessoas com renda disponível para comprar arte e apoiar os artistas. No mundo ocidental, isso é considerado absolutamente normal". 

"[Komposition-56-2012]" de Shirana Shahbazi. Impressão em papel alumínio cromado, cortesia da Galerie Bob van Orsouw.

Esta nova infraestrutura regional das artes, há uma década uma das que cresce mais rápido no mundo, viu o surgimento de novas galerias de arte, museus, leilões e feiras de arte, mais notadamente no Emirados Árabes e Catar, mas também na Arábia Saudita, onde novas vitrines para a arte contemporânea estão em desenvolvimento. Nos centros de arte ocidental mais antigos, a maior concentração de arte fotográfica do Oriente Médio pode ser encontrada em Londres; no Oriente Médio, o ponto principal é Dubai, que recentemente abriu galerias dedicadas em grande parte e até mesmo exclusivamente à arte fotográfica. A mais recente é a East Wing, cujo diretor, Elie Domit, vê um crescimento na percepção geral da fotografia da região. "Essa conscientização e curiosidade fazem parte de uma mudança na atenção para uma área geográfica que tem sido de certa forma envolta em mistério," diz.

Rose Issa, uma curadora pioneira em Londres especializada na arte contemporânea do Oriente Médio e editora do livro Fotografia árabe agora (Arab Photography Now), de 2011, possui opiniões semelhantes. Eu descobri que há uma sede por imagens de ou sobre a região, já que são poucas as pessoas hoje que podem facilmente ir para a Síria, Iraque, Palestina, Tunísia, Egito, Irã ou Arábia Saudita e, portanto, a representação de artistas da região pode preencher essa lacuna," diz ela. "Além disso, uma vez que a região está nos noticiários, é natural que o público queira aprender mais sobre ela, e todos os artistas-fotógrafos do Oriente Médio e da África do Norte têm coisas únicas e interessantes a dizer".

Burj Khalifa III de Ziad Antar, da série de 2012, Expirado (Expired). Impressão de gelatina de prata, cortesia da Selma Feriani Gallery.
"Burj Khalifa III" de Ziad Antar, da série de 2012, "Expirado (Expired)". Impressão de gelatina de prata, cortesia da Selma Feriani Gallery.

No entanto, há outras razões muito mais práticas, explica: "Nos últimos 20 anos a fotografia em geral, e não apenas do Oriente Médio, tornou-se popular em galerias de arte. As razões para isso não são apenas artísticas, mas também logísticas: A fotografia é um meio que pode facilmente evitar os custos de transporte. Os fotógrafos podem enviar as imagens por e-mail ou em um disco, portanto, é menos dispendioso organizar uma exposição uma vez que você subtraia os custos de envio, e o tamanho da imagem pode ser adaptado para se adequar ao seu orçamento, economizando assim nos custos para emoldurar".

Portanto, ao que parece, o florescer da arte fotográfica do Oriente Médio teve várias sementes. A sua hora chegou, alimentada por dinheiro emergente e espaços para exibir e divulgar as obras, desde museus, galerias de arte a feiras de arte on-line.  

Mas talvez o maior fator seja a perspectiva global crescente dos próprios artistas do Oriente Médio. Ao absorverem a vida, cultura e história da arte além de suas regiões de origem, através das lentes de suas câmeras e de suas próprias experiências, eles estão colocando suas marcas originais no panorama artístico mundial.  

Simon Bowcock Simon Bowcock é um artista fotográfico situado no Reino Unido e escreve regularmente sobre arte para revistas como a Harper’s Bazaar Art e Eikon.


Este artigo está disponível na página 8 da edição impressa da Saudi Aramco World.

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This article appeared on page 8 of the print edition of Saudi Aramco World.

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