Volume 65, Número 4Julho/Agosto de 2014

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É manhã de sexta-feira, 16 de maio, o dia inicial da concentração do time bósnio, que em outubro foi qualificado para a Copa do Mundo deste ano no Brasil, o seu primeiro êxito desta natureza como uma nação independente moderna. Sem dúvida a maioria dos cidadãos concorda que a classificação da seleção nacional é o maior acontecimento que presenciaram durante um período de pós-guerra assolado por disfunção do governo, 60% de desemprego e a discórdia étnica não resolvida entre muçulmanos, sérvios e croatas.

Tem chovido sem parar desde a noite de terça-feira. Apesar da maior parte da chuva ter escorrido, a água permanece no canto ao sudoeste do campo, fazendo-o parecer mais com um pântano do que um campo de futebol. Entretanto, Sarajevo é um dos lugares mais afortunados na República da Bósnia-Herzegovina, onde a chuva continuou até o sábado, 17 de maio, causando inundações catastróficas e deslizamentos de terra que deixaram aproximadamente 500.000 pessoas sem lar nesta nação de quatro milhões. As imagens de casas destruídas e danificadas, animais de fazendas mortos flutuando na água e famílias desesperadas preenchem o noticiário noturno. É a pior catástrofe desde a guerra da Bósnia, que gerou dois milhões de refugiados e deixou 100.000 pessoas, na maior parte civis, mortos.

O ônibus da seleção bósnia está programado para chegar às 9h30, permitindo que os jogadores entrem em campo por volta das 10h00. Senad, Nihad e Sead, que são rápidos em convidar um estranho para um café, ainda têm trabalho a fazer. 

Por volta das 8h00, a chuva faz uma pausa, dando a Nihad a chance de esticar as redes, que ele carrega para o campo em um velho carrinho de mão, nas traves de gol. Senad e Sead fazem a marcação do campo com giz, esticando um cabo entre os escanteios para garantir que as suas linhas estejam retas. Eles estão dando alguns toques finais no campo quando os fortes oficiais da Securitas em jaquetas de aviador azuis-escuras e pretas abrem os portões para deixar o ônibus entrar, recebido por aproximadamente 100 torcedores jovens e velhos, que aplaudem, todos com esperança e orgulho nos seus olhos. O técnico da seleção Safet Sušić, um dos maiores jogadores de futebol já produzidos pela antiga Iugoslávia, e cuja terra natal, uma aldeia 100 quilômetros ao norte de Sarajevo chamada Zavidovići está alagada, olha para trás através das janelas escuras e acena rapidamente.

As portas são abertas e 16 dos melhores jogadores de futebol do mundo descem, usando seus uniformes de treino. Incluindo Miralem Pjanić, 24, um meia com cara de criança do AS Roma, cujos torcedores chamam de "o pequeno príncipe"; Mensur Mujdža, 30, um zagueiro que jogou para o time da SC Freiburg na Bundesliga da Alemanha, saindo de uma lesão que quase lhe custou o lugar na convocação para o Brasil; o goleiro reserva Asmir Avdukić, 33, o único jogador que nunca jogou no exterior decidindo, em vez disso, cuidar da rede do FK Borac em Banja Luka, capital da Republika Srpska, uma das duas entidades políticas de Bósnia; e o atacante temperamental Vedad Ibišević, 29, cujo avô e 20 outros parentes foram mortos durante a guerra, e que agora estrela o time VfB Stuttgart da Bundesliga.

O campo está bonito: escorregadio, mas pronto para a ação. "Há somente três de nós, mas damos conta do recado", diz Senad, membro mais jovem da equipe que cuida do campo, como se o resultado nunca fosse uma dúvida. "Nos últimos dias não fizemos mais nada além de trabalhar. Todos nós trabalhamos para tornar isto uma realidade."

Alguns bósnios dizem que a confiança já foi algo raro na Bósnia, ultimamente uma nação de pouca sorte localizada em uma região balcânica famosa por seu fatalismo. Esta seleção de jogadores de futebol, contudo, está mudando isto. 

"Os bósnios e os sérvios possuem esta inclinação ao pessimismo e depressão, uma mentalidade de perdedor. Nos faltava otimismo", diz Marjan Mijajlović, um comentarista esportivo servo-bósnio de voz grave. Ele narra os jogos da FACE-TV sediada em Sarajevo e durante um jogo em 2009 deu ao time o seu apelido: "Zmajevi," ou "Dragões", inspirado em um herói militar bósnio do século XIX, Husein Kapetan Gradaščević, que é celebrado em uma sevdah, ou canção bósnia tradicional que se refere a ele como um dragão.

 Mas as coisas estão mudando, diz Mijajlović, 42. "Olhe para Džeko e veja como joga com confiança", observa, referindo-se ao atacante de 28 anos Edin Džeko, que de 2008 a 2009 conduziu o VfL Wolfsburg ao seu primeiro título da Bundesliga antes de mudar em 2011 para o Manchester City, onde ajudou o time a conquistar dois títulos da Premier League inglesa em três anos. "Se você acreditar que não perderá, você não perderá".

Além de ter vindo de um pequeno país com recursos modestos e uma pequena quantidade de jogadores dentre os quais o time deve ser selecionado, o que faz a classificação da Bósnia para a Copa do Mundo até mais improvável é que a maioria dos seus jogadores eram crianças quando a guerra estourou. Agora eles estão levando esta nação louca por futebol à sua primeira Copa do Mundo, dando um pouco de alegria para pessoas que precisam muito disso. 

Entretanto, nem todo mundo está torcendo. Nacionalistas sérvios e croatas que querem se separar da Bósnia torcem contra a seleção bósnia.

O time, na maior parte bósnio muçulmano, mas incluindo vários croatas católicos e sérvios ortodoxos, emergiu como um competidor do futebol internacional e como um contrapeso a nacionalistas da Bósnia, prova do que diferentes grupos étnicos do país podem realizar quando trabalham em conjunto. De fato, o meia de 32 anos Zvjezdan Misimović, um sérvio que entrega os passes para o gol, e Džeko, muçulmano e artilheiro do time, formam a dupla que mais produz pontos para a seleção. Hoje, um número crescente de sérvios e croatas do país estão começando a torcer pelo time bósnio e alguns observadores se perguntam se a seleção pode realizar o que os exércitos das forças de paz, políticos, diplomatas e trabalhadores de ajuda externa têm sido incapazes de fazer: unir o país.

"Nós não temos estes problemas na seleção. Somos todos como um só", diz Elvir Rahimić, 38, um meia, estrela do PFC cska Moscow, onde ele é chamado de "o general". Ele jogou para a Bósnia durante toda a classificação, mas Sušić pediu que ele fosse técnico assistente no Brasil. 

"Nós gostaríamos de ver a Bósnia-Herzegovina funcionar como a seleção. Isso seria ideal" diz Rahimić. "Não olhamos para quem é o que [nacionalidade], quais os nomes são. Não há nada disso. Esperamos que os políticos possam fazer o mesmo no governo como o que fizemos na seleção nacional. Isso seria fabuloso para este país". 

Diferentemente de muitas seleções que fecham o seu treino ao público, as sessões de treino bósnias, de duas horas cada uma, duas vezes por dia, estão abertas e nesta tarde de sexta-feira algumas centenas de torcedores ignoram uma chuva fraca e seguem em direção à arquibancada descoberta de concreto lascado que pode suportar 1.500 espectadores. Há crianças com uniformes, homens de meia-idade e idosos com boinas azuis, mulheres jovens com jeans de grife e mães com filhos pequenos. Asim Zukanović, um senhor mais idoso, veio diretamente ao estádio após retirar um dente do siso.

Sušić, com os seus quatro assistentes, Rahimić, Borce Sredojević, Elvir Baljić e Tomislav Piplica, fala com os jogadores, que se dividem em grupos de quatro e ficam em um quadrado de 30m² cercado por discos de plástico laranja e amarelo.

"Não há gols. Trata-se de reação", Sušić, 58, diz. Ele toca o apito e lança a bola no meio dos jogadores, que explodem em ação. 

O ritmo no pequeno espaço é rápido como relâmpago. Os jogadores pegam habilmente passes baixos e firmes que são disparados a eles de aproximadamente cinco, dez metros de distância e em seguida devolvem passes igualmente firmes para os colegas, antes que algum zagueiro interfira. Não há dribles. Os jogadores dão somente um ou dois toques antes de passarem a bola. Neste nível, um terceiro toque daria tempo de um zagueiro atacar e acabar com a jogada.

A intensidade é óbvia. Quando Pjanić joga erroneamente uma bola alta para um adversário, ele grita, fica de joelhos e enterra o rosto em suas mãos. Um momento depois já está de pé e perseguindo a jogada.

Entre a conversa constante entre os jogadores, Sušić grita instruções: "Troquem de campo, levantem as suas cabeças!" "Procurem mais rápido uma solução!" "Não fiquem segurando a bola!" Quando Sead Kolašinac, zagueiro de 20 anos do clube Schalke 04 da Bundesliga, espera demais para fazer um passe, dando a um zagueiro uma possibilidade tomar a bola, Sušić grita, "Você está esperando ele dizer olá?"

É irônico vindo de Sušić, que foi um incrível driblador do FK Sarajevo, Paris Saint-Germain (onde os torcedores o elegeram o maior jogador não-francês do clube) e da seleção iugoslava. Os seus feitos estão preservados no YouTube e há até uma canção bósnia que celebra as suas habilidades, "Not Alone, Safet (Não sozinho, Safet)". 

Atribuem a Sušić a introdução de uma marca divertida, criativa e ofensiva do futebol que resulta em muitos gols, fazendo dos bósnios um time favorito entre entusiastas de futebol fora da Bósnia. De fato, os 30 gols marcados pela Bósnia na classificação europeia deixaram a Bósnia atrás apenas de Inglaterra, Alemanha e Holanda. "Eles estão sempre tentando atacar", diz Luc Hagège, repórter esportivo do jornal francês L'équipe que cresceu assistindo Sušić e atribui a ele o fato de ter se tornado um amante do futebol. 

O futebol é uma parte importante da cultura bósnia e os campos de futebol de tamanho normal e miniatura são abundantes nas cidades e na zona rural. Soldados austro-húngaros introduziram o jogo no final do século XIX e os primeiros clubes apareceram antes da Primeira Guerra Mundial. Após a Segunda Guerra Mundial, a Iugoslávia se tornou uma potência do futebol, aparecendo em oito das 14 Copas do Mundo e chegando às semifinais duas vezes, antes de sua dissolução em 1990. Antes de Sušić, houve Vahid Halilhodžić, outro destaque do Paris Saint-Germain, que também estará na Copa do Mundo como treinador principal da Argélia, e Asim "Hase" Ferhatović, outro grande driblador que jogou para Sarajevo, cujas habilidades estão imortalizadas no YouTube em uma canção em sua homenagem, "The Sunday That Hase Left (O domingo que Hase partiu)".

Esse é o legado que a geração atual de jogadores bósnios foi criada para herdar, até que a guerra explodiu. A maioria deles era criança quando o conflito começou. Alguns cresceram na Bósnia sob a ameaça de franco-atiradores e fogo de artilharia, outros partiram com as suas famílias e poucos jogadores nasceram fora da Bósnia.

Džeko lembrou em entrevistas como a casa da sua família foi danificada por fogos de artilharia. Isso forçou uma mudança para outra casa onde os membros desabrigados da família já estavam hospedados. 

Ibišević, 29, foi citado na edição de maio da ESPN Magazine sobre como, com sete anos de idade, se escondeu em um buraco que sua mãe cavou na floresta próximo à sua aldeia de Gerovi, esperando que sua pequena irmã adormecida não despertasse e alertasse paramilitares sérvios que estavam conduzindo buscas de casa em casa a poucas centenas de metros de distância. A sua família deixou a Bósnia em 2000 e após uma curta parada na Suíça mudou-se para St. Louis, Missouri, lar da maior população bósnia fora da Bósnia. 

Lá, em 2003, a Associação Atlética Acadêmica Nacional designou o atleta da St. Louis University o único calouro na sua lista de jogadores de futebol mais valiosos da Divisão I. Isto aconteceu depois que Ibišević, cujo cabelo curto começa a ficar grisalho, foi nomeado ao time principal All-America pela Associação Nacional de Técnicos de Futebol da América e Calouro do Ano pela Conferência dos EUA

Asmir Begović, goleiro do Stoke City na Inglaterra é visto como um dos três melhores goleiros pela Premier League inglesa. Ele deixou Trebinje no sul da Bósnia com a sua família quando tinha três anos e soube que queria ser um goleiro profissional, como o seu pai, após colocar suas primeiras luvas como um refugiado na Alemanha com quatro anos de idade. Aos 10 anos, a sua família se mudou novamente, para Edmonton, no Canadá, onde ele também jogou beisebol, voleibol, basquete e tênis.

Begović faz sua jornada a passos largos. "Poderíamos ter desistido como família, mas felizmente permanecemos juntos", diz o rapaz de 26 anos, que é casado e tem uma filha pequena. "Achamos que isso foi onde a vida nos levou; as coisas acontecem por uma razão. E eu acho que foi a melhor atitude que podíamos ter tido. Esta experiência obviamente me fez amadurecer um pouco mais rápido, tendo de lidar com um pouco mais de responsabilidade".

Begović chegou a jogar para a equipe sub-20 do Canadá, um dos nove jogadores que jogaram para seleções nacionais juvenis de outros países antes de se tornar parte da equipe bósnia. Enquanto muitos dos seus colegas de equipe que cresceram na França, Alemanha, Suíça e em outros lugares como refugiados dizem que a decisão sobre jogar para a Bósnia ou para os seus países adotados veio facilmente, Begović precisou de tempo para refletir.

"Eu tinha muitos relacionamentos e amigos no Canadá. Era uma parte bastante importante de minha vida, foi difícil deixá-los", diz Begović, cujos pais o estimularam a integrar-se na vida canadense, ao mesmo tempo fazendo a comida da Bósnia, falando e lendo em bósnio em casa. "Mas representar a Bósnia era algo que eu não podia recusar. Muitos da minha família estão aqui, portanto posso compartilhar estas experiências com eles. Nasci aqui e isto é uma enorme conexão". 

Se a Bósnia ganhar a Copa do Mundo em julho, Irfan Vugdalić de nove anos, que está jogando bola com Arnel Arnautovic, de 11 anos, em um morro ao lado de um novo campo de treino aprovado pela organização mundial de futebol fifa em Zenica, 75 quilômetros a noroeste de Sarajevo, diz que celebrará construindo uma fogueira naquele lugar. Daqui é possível ver o estádio Bilino Polje no centro de Zenica, onde a Bósnia jogou os seus jogos de classificação em casa, dos quais ganhou quatro e perdeu um. A torre da igreja católica se eleva acima da extremidade oeste do estádio, a torre da mesquita olha para a extremidade leste; e chaminés fumacentas das fábricas de aço erguem-se acima delas.

Suad, o pai de Vugdalić, de 38 anos, tem outros sonhos. "Se eu tivesse a chance de sair daqui, eu o faria. Não preciso nem refletir sobre isso", diz.

Ele e seu filho vão para o campo jogar futebol quase todos os dias, mas nesta tarde de segunda-feira, o dia anterior às chuvas catastróficas, eles estão aqui antes do habitual. Aproximadamente uma hora antes, por volta das 15h30, um homem atirou e matou outro homem em uma disputa envolvendo dinheiro e grafitagem étnica.

Suad Vugdalić reconhece, contudo, que a vida era melhor quando Zenica, a qual os habitantes locais orgulhosamente chamam de o Ninho dos Dragões, hospedou a equipe de futebol bósnia. Imagine o jogo de classificação final em casa contra Lichtenstein.

"Não havia ninguém nas casas. Todos estavam nas ruas. E não havia problemas. Somente alegria", recorda ele. "Ninguém pensava em desemprego, trabalho ou quem era de qual religião". 

"Nos levou de volta para a época em que todos vivíamos juntos. Havia até mesmo sérvios de Banja Luka e Bijeljina comprando uniformes da Bósnia". 

"Isso era inimaginável há poucos anos", acrescenta a sua esposa, Arnela. "Muitas pessoas estão começando a acreditar na Bósnia-Herzegovina como um estado". 

Além de seus métodos vitoriosos, o que faz estes jogadores serem quistos pelos colegas bósnios é o fato de eles terem vivenciado as dificuldades da guerra e a vida de refugiados como eles. Ao mesmo tempo, os jogadores, após sobreviverem tempos difíceis e terem amigos e família na Bósnia, sabem que muitos bósnios ainda têm vidas difíceis. De fato, entre o estádio e o Hotel Herzegovina onde estão hospedados, as cenas da dificuldade são costumeiramente visíveis do ônibus da equipe: trabalhadores rurais se debruçam sobre campos, um homem com apenas uma perna manca sobre muletas, uma mulher idosa pálida pede esmola, cães abandonados por toda a parte. Isto os torna realistas, felizes em atender pedidos de autógrafos ou tirar fotos com os torcedores no hotel entre os treinos.

"Nós sabemos o que as pessoas enfrentaram durante a guerra", diz o meia Senijad Ibričić, 28, o mais jovem de cinco irmãos, que aprendeu a jogar futebol em um campo de refugiados fora de Zagreb. "O futebol leva um pouco de felicidade aos corações das pessoas e isto nos dá forças para lutar".

Eles também tentam encontrar outras maneiras de ajudar. Begović começou uma fundação que constrói instalações recreativas para crianças na Bósnia e Inglaterra, enquanto Džeko é quase tão noticiado em função dos seus empreendimentos de caridade quanto por seus gols. Durante os treinamentos, na metade do período de concentração, eles realizam um jogo para angariar fundos, contra a seleção sub-21 do país em Gradačac no norte. Jornais locais reportam como Pjanić parou em uma farmácia no caminho para comprar suprimentos para as vítimas das enchentes. Entre treinos em um domingo, vários dos jogadores recebem ligações em um teleton para arrecadar dinheiro para um novo hospital de transplante de medula óssea. 

Após uma hora de ligações, Rahimić, Kolašinac, Avdukić e outro goleiro reserva, Jasmin Fejzić, 28, saem para tomar um café espresso. Eles discutem com um garçom do hotel se o FK Čelik, o time de Zenica cujo jogo do fim de semana contra Sarajevo havia sido cancelado por causa das enchentes, é bom. 

Os jogadores reconhecem que representar o seu país em sua primeira Copa do Mundo será um desafio, mas ainda assim exalam confiança. "Para superar isto, só temos de relaxar, aproveitar e não ter medo. Sabemos que somos uma boa equipe", diz Izet Hajrović meia de 22 anos, que marcou o gol da vitória, um foguete de 25 metros, contra a Eslováquia, que manteve a equipe na liderança de seu grupo, garantindo a classificação para o Rio. 

Essa atitude contagiou muitos bósnios.

"Trouxeram confiança para as crianças. Mostraram que os bósnios são pessoas talentosas e que para ter sucesso somente temos de trabalhar muito", diz Mensur Milak, diretor da escola primária de Mak Dizdar em Zenica. "Isto representa muito para a Bósnia-Herzegovina. Vai além do futebol".

Talento e muito esforço uniram este grupo de jogadores, mas a química correta, todos eles concordam, foi essencial para o sucesso. Isto começa com os técnicos: três muçulmanos, um servo-bósnio e um croata bósnio.

"As nossas relações são baseadas em forte amizade, honestidade e respeito e isto ajudou a construir unidade, coesão e uma ética profissional", diz o técnico assistente Sredojević, 56, que é sérvio. Para ter sucesso com os jogadores, acrescenta, "Você precisa ser visto como um amigo".

Mas às vezes parece mais fácil falar do que fazer, para manter a química correta, especialmente tendo em conta a pressão para vencer os jogos no Brasil, e levantar e possivelmente unir um país dividido. Após a derrota da Bósnia para o Egito em um jogo amistoso em fevereiro, houve alguma "confusão" no vestiário, admite Ermin Bičakčić, um zagueiro que assinou com o 1899 Hoffenheim no final de maio. Durante as sessões de treino, os ânimos ocasionalmente ficam aquecidos, ou os jogadores colidem e caem enquanto seguram os seus tornozelos provocando um suspiro nervoso dos espectadores. 

Bičakčić, 24, que marcou o gol fundamental na vitória da seleção por 2 a 1 contra a Eslováquia durante a classificação, acredita que a equipe domou eventuais ameaças à sua unidade. "Crescemos como equipe", diz em alemão fluente. "Nenhum jogador ganhou sozinho. E todos nós temos uma grande motivação em fazer algo por pessoas que passaram por tantas coisas. E essa motivação é o que cria a química.

“Todos têm uma história. Todos têm suas memórias. Sim, está tudo no passado, mas nunca esquecemos de onde viemos".

É manhã de quarta-feira e o sol brilha no Stadion FK Famos. Os jogadores estão em duas fileiras, de frente um para o outro, treinando passes antes de correr para o fim da fila. Os seus pés são rápidos e a concentração está estampada em seus rostos. A ideia é que os membros da equipe encontrem um ritmo um com o outro, decolando de suas posições no momento certo. Um passo adiantado ou tardio e o tempo exato pode desmoronar.

"O trabalho de equipe é importante", Sušić lhes diz.

O zagueiro Muhamed Bešić está em forma e afiado, apesar de ter se unido à equipe com alguns dias de atraso por causa de compromissos com o seu clube, o Ferencvárosi em Budapeste. Sušić chamou Bešić, 21, a única pessoa do time capaz de marcar o Lionel Messi da Argentina, provavelmente o maior jogador do mundo, no primeiro jogo da Copa do Mundo da seleção.

Bešić lembra ter ficado nervoso antes de seu primeiro treino juvenil, em uma equipe chamada Tiergarten em Berlim, onde ele nasceu. Mas ele não está nada nervoso agora, apesar da tarefa à sua frente. 

"Não penso no jogo contra Messi. Vejo-o como outro jogador. Somente me concentro no meu jogo", diz Bešić, cujos braços são cobertos por tatuagens, incluindo um conjunto que diz, "Mãe", "Pai", "Faruk" (seu irmão), e "Falešići", a cidade situada aproximadamente a 150 quilômetros do norte de Sarajevo de onde a sua família é. Embora a Bósnia seja mais desfavorecida, Bešić acredita que a equipe pode ganhar.

"Porque jogar futebol se não for para ganhar?", diz, consciente de que as melhores esperanças de um país jovem diverso estão caminhando com ele e seus colegas Dragões.

Omar Sacirbey Omar Sacirbey (osacirbey@hotmail.com) é um correspondente do Religion News Service (Serviço de Notícias de Religião) e ex-diplomata bósnio durante a Guerra da Bósnia de 1992 a 1995. Filho de refugiados bósnios que vieram à América em 1967, cresceu amando o futebol e é agora um treinador de futebol juvenil.
Haris Memija Haris Memija (harismemija@gmail.com) é um fotojornalista em Sarajevo que trabalha principalmente para a Agência de notícias Xinhua; também é representado pela Corbis Images.


 

This article appeared on page 16 of the print edition of Saudi Aramco World.

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