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Os arcos pontiagudos na cisterna de Ramla foram comissionados em 789 d.C. pelo califa abássida Harun al-Rashid.
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cima do solo, a cisterna de Ramla, do século VIII, localizada a cerca de uma hora ao sudeste de Tel Aviv, não parece muita coisa: longas filas de montes de entulho de pedra lavada, como canteiros elevados, pontilhadas por orifícios através dos quais é possível jogar um balde com uma corda. Mesmo o seu nome árabe, Bir al-'Aniziya ("piscina dos cabreiros"), a subestima. Com um olhar mais atento, no entanto, sua importância torna-se rapidamente evidente, bem como a razão pela qual também é conhecida como "A Piscina de Arcos."
"Cuidado com a cabeça", me aconselha o zelador, tocando o teto baixo de uma escada revestida de líquen que descia até a câmara da cisterna, inundada com uma água turva azul-esverdeada. Raios de luz do sol entrando através dos orifícios de acesso ricocheteavam na superfície da água, lançando reflexões tremidas em uma rede cavernoso de arcos, cada um deles elegantemente curvado para cima a partir de seus pilares até um ápice pontiagudo. Tecnicamente conhecidos por historiadores da arte e arquitetos como arcos "em ogiva" ou simplesmente "pontiagudos", estes foram construídos em 789 d.C, o que os deixa entre os mais antigos arcos do tipo na arquitetura islâmica - e seu uso aqui, naquela época, marcou uma virada na história da arquitetura.
A mudança foi tanto estética quanto estrutural. Comparado ao seu antecessor - o semicircular "arco romano" -, o arco pontiagudo graciosamente afunila em uma variedade de ângulos, e sua maior altura admite mais luz. Estruturalmente, um arco pontiagudo geralmente pode suportar até três vezes mais peso do que um romano, e foi uma das principais características arquitetônicas que permitiu que os construtores de grandes catedrais medievais da Europa Ocidental pudessem elevar suas paredes e tetos a alturas estonteantes, criando assim vertiginoso o estilo gótico. Esses construtores devem muito à cisterna de Ramla e outras estruturas em todo o mundo árabe, nas quais o arco pontiagudo feito estava presente séculos antes de entrar no léxico arquitetônico da Europa.
Mas como? Como os sublimes interiores de Chartres, Sens, Salisbury e dezenas de outros edifícios góticos são oriundos daquilo que era essencialmente um porão inundado em uma cidade árabe ensolarada?
Para responder a essa pergunta, eu segui o arco pontiagudo por cinco países e o mesmo número de séculos - uma jornada que começou no final da trilha, na cidade onde a arquitetura gótica nasceu: Paris.
ão me importo que atirem em mim" foi como Alistair Northedge resumiu a sua dedicação à busca de tesouros arqueológicos em cantos remotos e às vezes perigosas do Iraque, Afeganistão e outros pontos de turbulência política em todo o Oriente Médio. Eu o conheci no ambiente comparativamente pacífico de seu escritório no Institut National d'Histoire de l'Art, adjacente à famosa Bibliothèque Nationale de Paris. Rastrear as origens do arco pontiagudo seria complicado, Northedge me contou, porque há um desacordo sobre se alguns dos mais antigos exemplos - como o Grande Arco de Ctesiphon, do século VI, do palácio Sassanian em Taq-e Kisra, norte do Iraque, ou a igualmente antiga igreja bizantina em Qasr ibn Wardan, na Síria - são verdadeiros arcos pontiagudos ou simplesmente parábolas, as precursoras do arco pontiagudo.
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A delicada ponta do arco de Amra Quşayr", do ano de 715, pode ter sido tanto um dispositivo decorativo como estrutural.
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"Você pode ver alguns portais primitivos, por exemplo, onde o arco é pontiagudo", Northedge observou, "mas não tenho certeza de que estes podem ser descritos como uma estética deliberada, enquanto está claro que se tornam uma estética deliberada durante o período omíada na primeira metade do século VIII".
Na estimativa de Northedge, algumas das mais antigas ocorrências do arco pontiagudo estão nos famosos "castelos do deserto" da Jordânia, como Qasr al-Kharanah e Amra Quşayr, construídos em 710 e 715, respectivamente, naquela que era então a Síria governada por Umayyad.
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Um arco pontiagudo, à direita, pode suportar até três vezes mais peso do que um arco semicircular, à esquerda.
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"Os arcos [pontiagudos] nestes são relativamente pequenos, mas você pode ver que são compostos de dois arcos diferentes com centros cruzados", ele explicou. Enquanto um arco arredondado tem um único centro, um arco pontiagudo tem pelo menos dois. A distância entre os centros determina o ângulo no qual os dois lados se encontram no ápice do arco - a sua "pontiagudice". A boa e velha geometria escolar ajuda a ilustrar: Imagine um compasso, com a sua ponta seca na metade de uma linha reta. Mover o seu grafite de uma extremidade da linha à outra produz um arco semicircular com um único centro. Mas ao mover a ponta seca para um ponto a um dos lados do ponto médio e desenhar um arco e, em seguida, mover este ponto para o outro lado do ponto médio e desenhar um segundo arco, serão criados dois arcos que se cruzam: um arco pontiagudo.
Enquanto arcos arredondados são inquestionavelmente resistentes o suficiente para inúmeros aquedutos e arcos triunfais romanos, eles se enfraquecem com a altura, pois eles dirigem o peso que suportam para fora, em direção às paredes. Quanto maior o arco, mais fortes e mais espessas suas paredes precisam ser - e tais paredes só podem ser espessas até um certo ponto, antes de se tornarem ridiculamente impraticáveis e caras. Arcos pontiagudos, no entanto, dirigem grande parte do impulso do peso para baixo, em direção ao solo, podendo, dessa maneira, suportar muros muito mais altos e finos.
Que o arco pontiagudo de fato viajou do Oriente para o Ocidente é algo dificilmente desconhecido para os historiadores de arte, arqueólogos e arquitetos. Nas palavras do famoso arquiteto inglês do século XVII e início do XVIII, Sir Christopher Wren, o projetista da Catedral de St. Paul, em Londres, "Isso que hoje chamamos de estilo gótico de arquitetura…. acho que deveria, com mais razão, ser chamado de estilo sarraceno [árabe]…. Se alguém duvida desta afirmação, vamos apelar para qualquer um que tenha visto as mesquitas e os palácios de Fez ou algumas das catedrais na Espanha construídas pelos mouros".
Geralmente rejeitados na época, os insights de Wren foram justificados por historiadores de arquitetura posteriores, incluindo W. R. Lethaby (1857-1931), autor em 1904 deMedieval Art, um dos primeiros livros didáticos de história da arte a serem utilizados nos campi universitários. "Há muito mais do Oriente no estilo gótico, em sua estrutura e fibra, do que aquilo que está externamente visível", escreveu Lethaby. "Não é geralmente percebido em quão grande grau as formas persas, egípcio-sarracenas e mouras são membros de uma arte comum com o gótico".
A especulação de que os cavaleiros cruzados, retornando do Oriente, foram quem introduziu o conhecimento do arco pontiagudo na Europa era uma consequência popular deste ponto de vista. Mas a teoria tinha seus céticos, incluindo um excêntrico estudante de Oxford chamado T. E. Lawrence, mais tarde conhecido como "Lawrence da Arábia", que concluiu em sua tese de graduação de 1908 que não havia "nenhuma evidência" que os cruzados "emprestaram qualquer coisa, grande ou pequena, de qualquer fortaleza que [eles] viram na Terra Santa".
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Entre os primeiros defensores modernos da teoria das origens orientais do arco pontiagudo estava o formidável K. A. C. Creswell. Nascido em Londres, em 1879, Creswell foi o primeiro professor de arte e arquitetura islâmicas na Universidade Americana no Cairo e é geralmente considerado um dos fundadores da disciplina. O seu multivolume Early Muslim Architecture e igualmente pesado Muslim Architecture of Egypt ocupam quase um metro de espaço na prateleira. Um desenhista de formação, Creswell realizou sua pesquisa sob a ótica de um engenheiro, fotografando, catalogando e meticulosamente medindo monumentos do Egito até o Eufrates. Na sua opinião, "a evolução do arco pontiagudo" poderia ser determinada "pela separação gradual dos dois centros". Mapeando esta evolução ao comparar as diferenças fracionais entre os vãos de diversos arcos em todo o Oriente Médio, ele concluiu que o arco pontiagudo era "de origem síria" e que "não há exemplos europeus conhecidos até o final do século XI ou início do século XII".
Pesquisas como a de Creswell são as melhores provas que historiadores têm para seguir em frente, disse Northedge, pois a história do arco nas terras árabes foi escrita exclusivamente em pedra. "Eles [primeiros arquitetos muçulmanos] não deixaram registros por escrito de sua arquitetura", suspirou.
Do escritório de Northedge, é uma curta distância para o local onde os construtores das grandes catedrais góticas da Europa tiveram suas primeiras sugestões de arcos pontiagudos, além de um design geral, da igreja da abadia de St. Denis, famosa tanto como o berço da arquitetura gótica e como a casa do homem que serviu como sua parteira, o abade Suger.
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the art gallery collection / alamy |
Para o abade Suger de St. Denis, em Paris, o arco pontiagudo servia tanto para a engenharia como para a filosofia. Uma imagem do abade, acima, aparece entre os muitos vitrais que iluminam a igreja da abadia de St. Denis, abaixo.
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ascido em 1081, Suger parecia fadado à vida em St. Denis, onde foi depositado aos 10 anos por sua miserável família como um "oblato" - essencialmente, uma doação humana. Educado na abadia junto ao futuro rei Luís vi, Suger se tornou abade em 1122. Até então, a velha igreja da abadia do século VIII necessitava muito tanto de reparo como de expansão. Em 1135, Suger iniciou um programa de construção, em aliança com arquitetos cujos nomes foram perdidos, que pretendia transformar o escuro interior românico da igreja em algo muito iluminado, arejado e totalmente novo. Seu projeto reuniu pela primeira vez aquilo que se transformou nos principais elementos da arquitetura gótica: arcos pontiagudos, arcobotantes que permitiam que os arcos suportassem ainda mais peso e a abóbada nervurada, outra inovação oriental. O resultado foi um interior de cair o queixo, com tetos altos e paredes que desafiavam a gravidade compostas mais de vitrais do que pedra. A luz do sol que entrava através dessas janelas banhava o vasto interior em uma "coroa de luz", como descreveu Suger, desempenhando um papel simbólico e teológico no esquema arquitetônico geral do abade.
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"A mente entorpecida sobe à verdade através daquilo que é material e, ao ver esta luz, é ressuscitada de sua submersão anterior", observou. Em outras palavras, luz tinha um propósito místico, elevando a mente terrena e a alma humana para mais perto do Divino. Esta foi uma crença primeiro articulada pelos neoplatônicos da Antiguidade posterior, cujos ensinamentos Suger admirava, particularmente os do teólogo cristão sírio do século V conhecido como Dionísio, o Areopagita, que via a presença de Deus "como um raio fontal e um feixe de luz… brilhando sobre todas as mentes". Dois séculos depois, uma metáfora similar foi revelada no Corão (24:35): "Deus é a Luz dos céus e da terra. A parábola de Sua luz é como se houvesse um nicho e dentro dele uma lâmpada: a lâmpada fechada com vidro: o vidro como se fosse uma estrela brilhante…. Luz sobre Luz! Deus guiará a quem Ele quiser até a Sua luz."
Tal qual seus pontos de vista filosóficos, os projetos de Suger em St. Denis tinham raízes profundas. Em sua biografia de Luís vi, ele deixou uma pista sobre onde ele poderia ter se inspirado para sua igreja: Foi durante uma missão para o rei na Abadia de Cluny, no sul da Borgonha. O ano era 1130, apenas cinco anos antes do trabalho começar em St. Denis.
viagem de Paris a Cluny, que provavelmente levou para Suger pouco mais de uma semana a cavalo, foi para mim de cerca de quatro horas por trem. Ainda assim, cheguei 200 anos atrasado. Vítima do fervor anti-religioso da Revolução Francesa, grande parte da abadia foi desmantelada no final do século XVIII e vendida, pedra por pedra, para os construtores locais. No entanto, a fama de Cluny ainda atrai visitantes, assim como acontecia quando era a maior igreja da Europa medieval e a sede da poderosa e influente subordem beneditina dos monges de Cluny.
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No momento da visita Suger, em 1130, os arcos de 30 metros de Hugo de Semur na Abadia de Cluny eram mais de 200.
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Como St. Denis, Cluny teve um abade criativo e ambicioso, Hugo de Semur, e suas renovações da abadia conhecida pelos historiadores como Clunyiii começaram em 1088 e continuaram após sua morte até 1130 - o ano da visita de Suger. Embora a maior parte de Cluny iii não exista mais, pedaços dela ainda sobrevivem, com a ajuda de restauradores, incluindo vários arcos pontiagudos de 30 metros de altura (cerca de 100') que desempenharam um papel crucial na história da jornada do arco do Oriente para o Ocidente.
"Aqui, você pode ver a forma como os arcos abriam a igreja e a deixava cheia de luz", disse meu guia, Matthias Mai, assim que entramos. Uma série de janelas de clerestório nas paredes exteriores, em conjunto com janelas arredondadas "olho de boi", juntas aos arcos admitiam tanta luz que o efeito era, como o biógrafo contemporâneo do Abade Hugo escreveu, "um lugar onde os moradores lá de cima pisariam".
Meu olhar seguiu as trajetórias dos arcos até seus claramente distinguíveis ápices pontiagudos. No momento da visita de Suger, havia cerca de 200 arcos na nave, corredores laterais e transepto. O impacto não podia ser menos do que deslumbrante.
Atualmente, TVs de tela plana em toda a abadia oferecem tentadoras visões geradas por computador daquilo que podia ser visto: uma igreja ainda não totalmente gótica, mas com uma ruptura evidente do estilo românico.
"O Abade Hugo foi um dos maiores construtores de todos os tempos", a força motriz por trás "[d]a expansão de Cluny na Ile-de-France, onde o estilo gótico, admiravelmente orgânico e articulado, surgiu", escreveu o finado historiador da arte Kenneth J. Conant, que fez do estudo e escavação de Cluny o trabalho de sua vida.
Assim, se os arcos pontiagudos de Cluny inspiraram Suger, e portanto toda a arquitetura gótica, como Hugo soube de sua existência?
"Ele entendia de engenharia e sabia o que estava fazendo", disse Mai. "Ele era um dos homens mais cultos e inteligentes de sua época".
E bem viajado também. Em 1083, cinco anos antes da reforma de Cluny, Hugo visitou uma abadia italiana cujo abade por acaso gostava da arquitetura do Oriente Médio: a Abadia Beneditina de Monte Cassino, cerca de 130 km (80 milhas) a sudeste de Roma.
buses de morteiro da ii Guerra Mundial, cartuchos de balas e capacetes amassados exibidos no lobby de meu hotel não fazem exatamente jus a seu nome, Hotel la Pace (Hotel da Paz). Eles eram, no entanto, lembretes adequados da Batalha de Monte Cassino, quando a famosa abadia, situada acima da cidade em uma colina solitária e pedregosa, foi arrasada por bombas aliadas por ser uma provável fortaleza alemã. (Um erro trágico: não era.) Isso marcou a quinta vez que Monte Cassino tinha sido atacada e destruída, após os lombardos em 589, os muçulmanos em 884, os normandos em 1030 e um terremoto em 1349.
Assim, ainda há menos vestígios aqui do que em Cluny, fora alguns pisos decorativos do século XI, uma torre da era romana e uma capela dedicada a São Bento, fundador tanto da abadia quanto da ordem monástica mais poderosa da Europa medieval. Após a ii Guerra Mundial, embora a abadia tenha sido completamente restaurada em estilo barroco em sua última encarnação, pedaços do edifício medieval sobreviveram como traços de suas conexões arquitetônicas com o Oriente. Os pisos decorativos acima mencionados, por exemplo, estão dispostos em coloridos e geometricamente aleatórios padrões cosmatescos - áreas de quadrados, diamantes e hexágonos - modelados em mosaicos de pisos bizantinos na Síria, Palestina e Egito. As maciças e apaineladas portas de bronze da igreja principal, gravadas com os títulos das vastas propriedades de terra da abadia, suas dependências e doadores, foram feitas sob medida em Constantinopla a pedido do abade Desidério, que renovou Monte Cassino entre 1066 e 1071. Como principal centro da Europa para a produção de manuscritos e a sede da Ordem Beneditina, o mosteiro estava, então, em seu apogeu de influência e riqueza. O mundano e bem-viajado Desidério poderia, assim, se dar ao luxo de importar mais do que apenas materiais de construção exóticos do Oriente. Como o bibliotecário da abadia Léo de Ostia anotou em seu relato contemporâneo da renovação, Desidério "mandou enviados a Constantinopla para contratar artistas que eram especialistas na arte de colocar mosaicos e pavimentos" assim como no trabalho com "madeira, alabastro e pedra".
Considerando as origens geográficas destes artesãos, Conant e outros têm sugerido que pode muito bem ter havido muçulmanos entre eles. A presença de engenheiros e pedreiros muçulmanos nas equipes de trabalho medievais do Ocidente cristão não era inédita. Durante as cruzadas e a reconquista cristã da Espanha muçulmana, muitos prisioneiros de guerra muçulmanos acabaram na França, em Roma e Constantinopla, como observado pelo já falecido estudioso John H. Harvey.
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Embora Léo de Ostia tenha escrito sobre os "arcos ligeiramente pontiagudos" sobre o pórtico da abadia em apuros de Monte Cassino, acima, eles não sobreviveram. A remanescente decoração de azulejos no chão, abaixo, testemunha mesmo assim as influências estilísticas, se não um trabalho manual real, de pedreiros e artesãos do Levante.
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"Entre os presos, deve ter havido um conjunto substancial de engenheiros militares mouros", escreveu Harvey , "e pode-se supor que os vencedores fariam uso de seus conhecimentos e suas técnicas aprimoradas". De acordo com um historiador de Gales, um prisioneiro até se tornou o arquiteto real do rei Henrique i da Inglaterra: um prisioneiro "da terra de Canaã, de nome Lalys, um homem eminente na arte de alvenaria, que construiu os mais célebres mosteiros, castelos e igrejas no país…e ensinou a arte a muitos galeses e ingleses".
Se as reformas realizadas pelos artesãos importados de Desidério - muçulmanos ou não - incluíam ou não arcos pontiagudos ainda é uma questão debatida entre os estudiosos. Conant acredita que sim. Em uma visita à abadia antes da ii Guerra Mundial, ele notou a presença de arcos pontiagudos datados da Idade Média em uma capela lateral. Ele ainda especula que Monte Cassino serviu de modelo para a igreja de Santo Ângelo, em Formis, Capua, também construída por Desidério, que apresenta arcos pontiagudos em sua entrada. O que para muitos deixa a dúvida de lado é o relato de Léo de Ostia, que descreveu os pórticos da igreja principal como tendo fornices spiculos ("arcos levemente pontiagudos"). Léo também deixou pistas sobre quando e onde Desidério pode ter visto pela primeira vez um arco pontiagudo. Em 1065, o abade fez algo que era essencialmente uma excursão de compras para Amalfi, um dos mais movimentados portos de entrada marítimos da Europa medieval para as cidades comerciais do mundo islâmico.
oje uma perfeita cidade turística italiana, Amalfi está na boca de uma profunda ravina na encosta sul da Península de Sorrento, uma enxurrada de casas de estuque cor de mel e de telhados vermelhos que vão até a Baía de Salerno, cerca de 70 km (45 milhas) a sudeste de Nápoles. Embora Desidério provavelmente tenha viajado até lá de navio, optei por um carro alugado para cruzar a estrada costeira, uma tira de asfalto em ziguezague ao lado de um penhasco com vista para a beleza perigosamente distrativa do mar Tirreno.
"[Nenhuma cidade] é mais rica em ouro, prata e tecidos de todos os tipos, de lugares diferentes", escreveu o poeta Guilherme de Apulia no final do século XI, época da visita de Desidério. "[M]uitas coisas diferentes são trazidas até aqui desde a cidade real de Alexandria e de Antioquia. Seu povo cruza muitos mares. Eles conhecem os árabes, os líbios, os sicilianos e os africanos. Este povo é famoso em todo quase todo o mundo, pois exportam suas mercadorias e amam levar de volta o que compraram".
Entre os muçulmanos, a reputação de Amalfi não era menos excepcional. Em seu Livro de Rotas e Reinos, o geógrafo turco do século X Ibn Hawqal elogiou a cidade como "a mais próspera cidade da Lombardia, a mais nobre, a mais ilustre por conta de suas condições, a mais rica e opulenta".
Esta admiração mútua era firmemente enraizada no comércio. Tão cedo quanto no século IX, a pequena república de Amalfi, embora nominalmente um estado bizantino, estava em contato comercial e diplomático regular com potências muçulmanas, incluindo abássidas, fatímidas, omíadas e muitos outros, do Mar Negro até as costas da Península Ibérica. O mais importante porto do Mediterrâneo ocidental, Amalfi só rivalizava com Veneza como um canal para a troca de mercadorias entre o Oriente e o Ocidente. Com baús cheios de tari - moedas de quarto de dinar cunhadas localmente e inscritas em árabe - e navios carregados com linho, madeira e produtos locais, comerciantes amalfitanos compravam óleo, cera, especiarias e ouro nos portos da Sicília árabe, na África do Norte, Síria e Palestina. Visitando os bazares de Constantinopla, trocavam o ouro por joias, perfumes, objetos de arte e têxteis preciosos, como a seda roxa, que precisava ser contrabandeada para fora do porto, já que era ilegal exportar o pano imperial de Bizâncio.
"O povo de Amalfi foi o primeiro que, por causa do ganho, tentou levar para o Oriente itens até então lá desconhecidos", escreveu o arcebispo Guilherme de Tiro no século XII. "Por causa dos artigos necessários que eles levaram para lá, obtiveram condições muito vantajosas dos principais homens daquelas terras e foram autorizados a ir livremente para lá".
As cidades orientais, de Bagdá até o Cairo e Tunis, mantiveram prósperas colônias comerciais sob proteção local e, em contrapartida, adotaram uma atitude similarmente cômoda de laissez-faire com seus parceiros comerciais. Quando o Vaticano conduziu uma campanha no século IX para expulsar os árabes do sul da Itália, Amalfi se recusou a cooperar e até mesmo deu porto seguro para os navios árabes. Embora isso tenha frustrado o Papa e alienado a teimosa república de outros municípios italianos, a jogada valeu a pena: Quando depois os exércitos árabes sitiaram o sul da Itália, Amalfi não foi tocada. O geógrafo e viajante do mundo do século XII, Benjamin de Tudela, declarou: "Os habitantes do lugar são mercadores envolvidos no comércio, que não semeiam nem colhem, pois habitam sobre altos montes e imponentes rochedos, mas compram tudo por dinheiro, … e ninguém pode ir à guerra com eles".
Exceto a natureza. Em 1343, um terremoto submarino e um tsunami varreu metade da cidade para o mar, e ela nunca se recuperou completamente. Assim, o que outrora foi o centro da cidade, a Piazza Duomo (Praça da Catedral), agora confina o porto. Ainda assim, a Piazza continua a ser lugar principal de encontro na cidade, com suas lojas turísticas, sorveterias e sua fonte. Mas verdadeiro coração e alma da cidade, ofuscando até a Piazza, é a Catedral de Santo André, restaurada em 1891 à sua glória árabe-normando românica do século XIII. Uma mistura desenfreada de listras mouras (ablaq, que significa "particolor"em árabe), brilhante mosaicos e arcos pontiagudos, a fachada é a mais clara declaração que você irá encontrar de que as importações de Amalfi do mundo islâmico tratavam-se de mais do que sedas e especiarias.
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Abaixo: vova pomortzeff / alamy |
Topo: Embora construída em meados do século XII, os arcos pontiagudos entrelaçados do claustro na Basílica do Crucifixo de Amalfi destacam o apelo duradouro do design islâmico na cidade portuária. Acima: Um afresco do século 17 na cripta da basílica mostra o edifício da forma como Desidério provavelmente o viu em 1065 - inclusive os arcos pontiagudos que inspiraram seu trabalho em Monte Cassino.
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"[A]s influências artísticas exercidas pelo mundo muçulmano no sul da Itália eram uma parte concreta da [sua] história política e econômica", escreveu o historiador de arte islâmica e atual diretor do Museu de Arte Moderna de Nova York, Glenn Lowry, em uma monografia de 1983 chamada Islam and the Medieval West. "Consequentemente, … a arte islâmica desempenhou um papel fundamental na formação do vocabulário de formas do sul da Itália. Seu impacto foi tanto prolongado quanto profundo".
Certamente teve um impacto sobre Desidério quando este subiu os imponentes degraus da catedral em construção. Ele chegou a Amalfi para comprar um presente para o futuro imperador sacro-romano, o rei Henrique iv da Alemanha , com a esperança de conquistar os favores do jovem monarca para Monte Cassino. Observando o estoque de tesouros importados do varejo da cidade, Desidério escolheu algumas das já mencionadas sedas roxas contrabandeadas como um presente apropriado para um rei em ascensão, juntamente com alguns vasos de prata para a igreja. Mas, de acordo com Léo de Ostia, algo mais impressionou o abade: "Desidério viu as portas de bronze da catedral de Amalfi e, como gostou muito delas, logo mandou as medidas das portas da antiga igreja de Monte Cassino para Constantinopla para construir as que agora estão ali".
As portas que saúdam os visitantes à catedral hoje em dia remete a uma igreja anterior, do século IX, a Basílica do Crucifixo, que ficava adjacente à que Desidério viu sendo construída. Excepcionalmente, a nova igreja estava conectada à mais antiga como um complemento expansivo, resultando em uma catedral de seis naves com uma floresta de colunas e arcos que "tornavam o edifício sagrado mais semelhante a uma mesquita árabe do que a uma igreja cristã", segundo uma história da igreja. A basílica continua de pé, apesar de agora estar separada da catedral principal. Durante o século XVIII, ambas foram redecoradas no estilo barroco, mas uma restauração da basílica em meados dos anos noventa revelou aquilo que historiadores da arte acreditam ser arcos pontiagudos dos séculos X e XI ao longo da nave. Acima dos arcos, uma dupla fileira de janelas de lanceta emolduradas com arcos pontiagudos pode ser vista na galeria superior, local onde as mulheres rezavam. A precisão da restauração é confirmada por um mural do início do século XVII na cripta, que mostra o interior da basílica antes da reforma barroca. Esta era a igreja que Desidério teria visto, e muito possivelmente os arcos que podem tê-lo inspirado, junto com as portas de bronze, a incorporar características semelhantes em Monte Cassino. Mais uma vez, Léo de Ostia fornece provas para esta suposição mencionando que, além de construtores de Constantinopla, Desidério havia contratado amalfitanos e lombardos.
Andando pela basílica, notei os arcos pontiagudos na nave, assim como alguns menores que são fáceis de esquecer, encaixados em seções segmentadas, ou trompas, de uma cúpula "melão" semi-esférica acima das escadas que conduzem até a cripta. Datados da época da construção da nova igreja, os arcos da cúpula podem ter sido "uma alusão consciente" às origens do Oriente Média em Santo André, Lowry especulou, e eram "típicos da arquitetura Norte Africana e egípcia.
"Isto pode ser visto nos mausoléus de Aswan e Cairo", continuou ele, "assim como em edifícios mais elaborados, como o Barudiyan Kubat (de cerca de 1120), em Marrakesh. Na verdade, a associação comum de trompas e cúpulas de melão com monumentos funerários no mundo muçulmano torna razoável assumirmos que tanto as formas quanto seus contextos eram familiares para os muitos amalfitanos que viajaram e viveram no Oriente Médio".
Deixo o o significado dessa afirmação surpreendente assentar por um momento. O que Lowry estava sugerindo era que os construtores da Catedral de São André não só copiaram características arquitetônicas islâmicas, mas também emularam seus usos específicos em ambientes religiosos. Isso era mais do que imitação - era a adoção total. A existência de tal empatia espiritual e intelectual entre cristãos e muçulmanos durante uma era muitas vezes ofuscada pela hostilidade bruta das Cruzadas está destacada por uma carta, citada por Lowry, escrita em 1076 pelo Papa Gregório vii ao amir argelino An-Nasir ibn Alnas. Em tons fraternais, Gregório reconheceu sua reverência compartilhada pelo profeta Abraão e reconheceu que "acreditamos e confessamos, embora de uma forma diferente, em um único Deus". Ainda mais revelador, Lowry observou, era que Gregório escreveu a carta em resposta ao pedido do amir para o envio de um bispo para cuidar da população cristã local.
Saindo da basílica por uma porta lateral, entrei um pátio adjacente, apropriadamente chamado de Claustro do Paraíso. Se eu tivesse sido deixado inconsciente neste espaço sublime, eu teria jurado, ao acordar, que estava em um palácio na Andaluzia, Marrocos ou Tunísia, tão caracteristicamente islâmica era a sua concepção. Construído entre 1266 e 1268 como um cemitério para a classe dominante de comerciantes de Amalfi, o pátio possui um jardim central e palmeiras cercados por muros baixos que suportam 120 delgadas colunas de mármore branco, dispostas em pares. Saltando dos topos das colunas, em baixo-relevo, estão os chamados arcos pontiagudos "entrelaçados", cujos arcos se cruzam como anéis de água formados por pedras atiradas em um lago.
Saindo dessa tranquilidade para o empurra-empurra das ruas lotadas de turistas de Amalfi, ao anoitecer, notei mais uma prova da influência da arquitetura árabe. As estreitas vielas e passagens sinuosas cobertas e caiadas de branco reticulando pela cidade se parecem muito com as do histórico Sidi Bou Said na Tunísia, cerca de 300 milhas náuticas a sudoeste. Tão marcante era a semelhança que você poderia imaginar fantasiosamente que uma cidade simplesmente se separou da outra, assim como seus respectivos continentes o fizeram cerca de 500 milhões de anos atrás.
Seguindo a direção de todas as estradas, cheguei ao porto de Amalfi. Embora não pudesse ver as luzes cintilantes da África no horizonte, eu podia imaginá-las, juntamente com os rangentes navios mercantes com velas quadradas retornando de suas costas, seus porões perfumados pelas especiarias, abarrotados de baús de joias e sedas. No entanto, esses navios transportavam também algo mais duradouro: ideias que mudaram a face da arquitetura ocidental. Até agora, a trilha dessas ideias, especificamente a do arco pontiagudo, seguiu um claro caminho geográfico e cronológico rumo ao norte a partir do sul da Itália até a França. Não estava menos claro que o arco pontiagudo era uma desconhecida novidade no Ocidente até pelo menos o século X, um dispositivo e um estilo inspirado na arquitetura do Oriente, e talvez, em alguns casos, até mesmo criada por construtores muçulmanos que chegaram ao Ocidente por meio da guerra ou por contrato comercial.
No momento em que estes construtores aplicavam os toques finais sobre os arcos da Basílica de Amalfi, uma arcada graciosa de arcos semelhantes tinha sido uma característica familiar de uma outra casa de oração por quase um século: a Grande Mesquita de Mahdia, ao longo da costa do Sahel, na Tunísia, minha próxima parada na trilha.
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ma adaga na mão" foi como Ibn Khaldun, historiador tunisiano do século XV, uma vez descreveu a estratégica península de Mahdia, que se projeta ao Mediterrâneo cerca de 250 km (150 milhas) ao sul de Tunis. De fato, a ponta da lâmina da adaga aponta para o leste, direto para um dos prêmios perenemente mais cobiçados da região: Egito. No início do século X, o homem que empunhava mais do que adagas metafóricas era 'Ubaidallah, fundador da dinastia dos Fatímidas. Este general ladino assumiu a liderança da Tunísia ao expulsar os aglábidas, governantes muçulmanos do norte da África e da Sicília durante o século anterior e os representantes nominais do califa abássida da longínqua Bagdá. Mais preocupados com o comércio do que com assuntos militares, os aglábidas não foram páreos para o exército e a ambição de 'Ubaidallah. Um capaz, ainda que cruel, monarca - ele assassinou aqueles que o ajudaram chegar ao poder, e os teólogos e legisladores com os quais discordava eram açoitados publicamente -, 'Ubaidallah denominou a si mesmo como o mahdi ("escolhido"), o redentor do Islã. O fato de isso ser uma heresia não o deteve, e a cidade que ele construiu na península estratégica foi chamada de Mahdia em referência ao título que ele deu a si próprio.
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Acima: A Grande Mesquita de Mahdia, Tunísia, construída em 916, provavelmente conhecida por mercadores amalfitanos. Seus construtores, por sua vez, teriam conhecido bem a Grande Mesquita de Kairouan, abaixo, onde arcos são datados do início e meados do século IX.
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Em 916, 'Ubaidallah ordenou a construção da Grande Mesquita de Mahdia sobre o estreito istmo que ligava a península ao continente. Grande parte da mesquita original foi destruída, reconstruída e/ou restaurada em várias ocasiões, com as ressalvas críticas das seções que vim para ver: a entrada principal e a arcada.
Percorrendo a porta de entrada outrora reservada apenas para o governante e sua comitiva, eu cruzei até um corredor de arcos pontiagudos, encimadas por uma abóbada formada pelas pontas juntas de arcos pontiagudos opostos quadrilateralmente. A estrutura parecia que poderia ter vindo de qualquer igreja gótica na Europa - mas tinha sido construída pelo menos um século antes de que o estilo sequer tenha sido sonhado por lá. Seria possível que algum construtor que esculpiu os blocos dourados de pedra calcária que suportam estes arcos tenham também viajado mais tarde para Amalfi? Poderia algum mercador muçulmano, contando histórias de casa ou se vangloriando da beleza das casas de adoração de sua cidade, ter descrito este lugar para uma intrigada plateia europeia? Ou talvez tenha sido um comerciante amalfitano quem passou por este caminho, possivelmente por esta mesma arcada, que compartilhou a notícia ao voltar para casa de que os edifícios do outro lado do mar eram mais impressionantes do que qualquer coisa que tivesse visto em casa. A falta de provas documentais torna impossível dizer, mas os fatos permanecem que, no início do século X, aqui neste porto árabe rotineiramente conhecido por mercadores amalfitanos, o arco pontiagudo estava estabelecido e proeminente.
Enquanto estava ali, mentalmente transportado de volta para aquele distante século, um homem idoso, curvado e bronzeado de sol sacudiu-me de volta a este. Ibrahim Nouri, guardião da mesquita, ficou satisfeito ao saber que eu estava interessado na história do edifício, e me dirigiu à junta no tempo literal em que a mesquita original terminou e a restaurada foi inciada.
"Esse tipo de construção não pode ser criada novamente", disse ele com uma verdadeira reverência. O motivo, ele me assegurou, era de que "foi construída pela fé", sugerindo que pode ter havido mais para o uso do arco do que a simples mecânica.
A fé sobre a qual Nouri falou inspirou a criação da cidade que permanece a mais sagrada do norte da África, cerca de 130 quilômetros (80 milhas) para o interior: Kairouan.
undada em 670 pelo general árabe Oqba ibn Nafi em sua marcha através do norte da África, esta cidade do deserto, cujo nome significa literalmente "lugar de parada", foi estabelecida como um acampamento militar com duas estruturas em seu centro: a mesquita e a residência do comandante. Embora nada sobreviva da mesquita de Oqba, a atual Grande Mesquita de Kairouan foi construída no início e meados de século IX, o que a torna uma das mais antigas casas de oração muçulmanas no mundo, assim como o modelo para todas as mesquitas posteriores no norte africano.
Cercado em três lados pelos muros com ameias da antiga cidade histórica de Kairouan, a mesquita se assemelha a uma fortificação desde o exterior, com muros altos e um minarete quadrangular afilado que acreditam ser de 730 - um século ou mais anterior ao resto do mesquita e talvez o mais antigo minarete em pé do mundo. A entrada ocidental, envolta por um enorme contraforte, fornecia uma sombra temporária entre a ensolarada cidade antiga e o escaldante pátio aberto da mesquita, ou sahn, encoberto por uma arcada de alas duplas. Três lados da arcada possuem arcos ligeiramente pontudos em forma de ferradura comuns à arquitetura islâmica de Marrocos e do sul da Espanha. Mas o pórtico sul, de frente para a sala de oração, difere tanto cronologicamente como esteticamente. Construído cerca de 40 anos antes do resto da mesquita, em 836, seus arcos de pontas agudas flanqueiam ambas as extremidades e a entrada do salão de orações. Eu aprendi por que os arquitetos escolheram esta aplicação específica de arcos pontiagudos com o arquiteto moderno Mohammad el Hedi Belahmar, do Instituto do Patrimônio Nacional da Tunísia, que, como a sorte estava sorrindo, estava na mesquita aquele dia, realizando pesquisas.
"A ideia era chamar a atenção para a entrada da sala de oração, para destacar que o pórtico de entrada era importante", Belahmar me disse. Isto também proporcionou um equilíbrio visual, diz ele, com oito alas arredondadas ancoradas em cada extremidade por arcos pontiagudos resolvendo o problema de como compartilhar bem o espaço. O uso do arco pontiagudo no norte da África era relativamente novo na época em que esta mesquita foi construída, disse Belahmar, e a forma distintiva dos arcos sugeriu a ele uma influência ou origem persa que, ao longo do tempo, foi arabizada em forma e nome.
"Em francês chamam isso de arc brisé e, em árabe, kaous munkassar - ambos significando 'arcos quebrados'", diz. Em relação a seu apelo junto aos primeiros construtores muçulmanos, Belahmar os vê como "basicamente uma solução de engenharia, para dar maior força aos edifícios".
Mais tarde,naquela noite, ouvi uma opinião diferente de outra autoridade arquitetônica, Lotfi Abd Eljaoued, diretor do Museu de Arte Islâmica de Kairouan. "Essencialmente, os arcos pontiagudos abriam edifícios e criavam fontes de luz", Eljaoued me disse, enquanto sentávamos à beira da piscina durante o crepúsculo iluminado por lanternas no hotel La Kasbah de Kairouan, uma fortaleza restaurada no coração da medina. "A luz era importante. Se você olhar para inscrições dos nomes de Deus nas mesquitas, muitos deles se referem a Ele em termos de luz. "
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A Surata 24 do Corão, Al-Noor ("Luz"), é um exemplo, enquanto, de acordo com a tradição muçulmana, quem recita o nome de Deus Al-'Aleem ("o Onisciente") se tornará literalmente "iluminado" com o conhecimento divino. Tais interpretações do conceito de luz eram muito parecidas com as do abade Suger, e me fizeram pensar que pode ter havido mais coisas acontecendo o tempo todo com o uso do arco pontiagudo do que a simples mecânica. Ainda assim, construtores muçulmanos nunca usaram o arco pontiagudo para alcançar as alturas dramáticas de catedrais góticas. Embora um possa ter inspirado o outro, a razão para esta distinção era, literalmente, fundamental.
"Desde cedo, a arquitetura de igrejas cristãs estava identificada com a basílica, que é um tipo de edifício longo e alto, enquanto a arquitetura islâmica viu o seu início na estrutura da casa com pátio, que é baixa, ampla e abrangente", segundo o especialista em arte islâmica medieval Yasser Tabbaa, professor visitante de História da Arte na nyu-Abu Dhabi. "Algumas mesquitas posteriores, quer otomanas ou persas, tinham essa aspiração pela altura - as primeiras, por suas cúpulas, as últimas, por iwans [espaços de entrada de três lados e com vão alto], por exemplo - mas nenhuma precisava de estabilização por meio de arcobotantes".
Em 969, inspirados não tanto pela luz como pelo desejo de terra e de riqueza, os fatímidas arrancaram das mãos de seus governantes abássidas as terras no final da ponta da adaga da península de Mahdia: o Egito. Um desses governadores foi o homem responsável pelo próximo monumento na trilha do arco: a homônima Mesquita Ibn Tulun, na cidade renomeada pelos fatímidas como Cairo.
ascido em 835 como o filho de um escravo de Bagdá, Ibn Tulun ascendeu nos postos do exército abássida até alcançar uma posição de poder em Samarra, no Iraque, então um ascendente centro de arte e arquitetura sob o governo do califa al Mu'tasim. Designado em 868 para servir como regente de Fustat, a então capital egípcia, Ibn Tulun expandiu e enriqueceu a cidade com projetos de obras públicas, incluindo um hospital e um aqueduto. Ambicioso, além de ter uma mente cívica, ele declarou a independência de Bagdá dentro de dois anos após sua nomeação e estabeleceu sua própria dinastia, os tulúnidas. Um novo regime exigia uma nova capital, e assim Ibn Tulun transformou uma área a nordeste de Fustat em um espetacular centro de governo chamado al-Qata'i (que significa "as alas" ou "os quartos"), com um complexo palaciano, jardins e uma maydan (praça pública) vasta o suficiente para que ele e sua corte jogasse pólo. No centro, estava a maior realização de Ibn Tulun: um complexo de mesquita de tamanho sem precedentes (2,5 hectares/6,5 acres). O projeto do complexo da cidade e da mesquita de Ibn Tulun reflete o patrimônio e o bom gosto do governante de Samarra. Construída em tijolo vermelho rebocado de estuque, a mesquita tem um intrincado revestimento decorativo com motivos vegetalistas e um minarete com uma escada exterior em espiral que lembra o famoso minarete Malwiya ("casca de caracol") de Samarra. Altas paredes duplas cercam a mesquita, criando um ambiente sereno e tranquilo na parte de dentro. Nas áreas entre as paredes, chamadas de ziyada, professores se reuniam para debater o Corão, teologia, astrologia, medicina e outros. Quando discussões e gargantas tornavam-se secas em dias quentes do verão, uma fonte no pátio distribuía limonada fresca. Uma faixa quase contínua de versos do Corão ainda pode ser vista ao longo das paredes internas, esculpida em vigas de madeira recuperadas, diz a lenda, dos destroços da Arca de Noé.
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Na mesquita de Ibn Tulun, construída no final do século IX, arcos pontiagudos surgem em pilares de tijolos semelhantes aos comumente utilizados em Samarra, no Iraque, cidade nativa de Ibn Tulun.
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Proporcionando forma e grandeza para a estrutura geral, no entanto, estão dezenas de pilares de tijolo que suportam a sala de oração e envolvem o pátio, encimados por fileiras de elegantes arcos pontiagudos. Histórias associadas à construção da mesquita vinculam esses recursos novamente a uma cooperação islâmico-cristã. Segundo o historiador egípcio do século X al-Balawi, quando Ibn Tulun soube que sua nova mesquita exigiria 300 colunas que só poderiam ser obtidas se retiradas de igrejas locais, o governante "achou isto errado e não quis fazê-lo". Ao saber disto, um prisioneiro cristão copta, que por acaso era um arquiteto, ofereceu-se para projetar a mesquita sem colunas de pedra ou mármore, optando ao invés por pilares de tijolos. Ibn Tulun ficou "tão satisfeito que o libertou e confiou a ele o trabalho".
Embora cristãos coptas possam ter se envolvido na construção, o projeto da mesquita, como concordam a maioria dos historiadores de arte, é decididamente islâmico, e especificamente de Samarra, cujo estilo favorece pilares de tijolo. Se os arcos pontiagudos da mesquita foram igualmente padronizados com base em exemplos mais antigos sírio-iraquianos - tais como os mencionados a mim por Northedge - é uma pergunta que fiz a Bernard O'Kane , professor de arte e arquitetura islâmica na Universidade Americana no Cairo, enquanto passeávamos pela mesquita sem os sapatos. Um homem polido, de óculos, cujo sotaque irlandês permanece intocado após 30 anos na cidade, O'Kane ecoou as precauções de Northedge contra respostas definitivas sobre o que inspirou o uso do arco pontiagudo entre arquitetos muçulmanos. Ele reconheceu, no entanto, que o objetivo de encher estruturas com uma luz simbólica, como Eljaoued havia dito, era uma explicação tentadora.
"Os fatímidas, por exemplo, chamavam as suas mesquitas por epítetos de luz", disse O'Kane, nomeando vários exemplos locais. "Al-Anwar era o nome original da mesquita de al-Hakim, que significa 'brilhando com esplendor'. Al-Azhar significa a mesma coisa. Al-Aqmar significa a 'mesquita iluminada pela lua'. Em sua escolha de versos corânicos na mesquita, também escolhiam frequentemente aqueles relacionados com a luz. Portanto, o conceito de iluminação, ou de fornecer a luz, era importante".
Apesar de seu interior inspirador e de sua importância histórica, a Mesquita de Ibn Tulun ocupa um lugar secundário na cronologia para uma peça de engenharia subterrânea muito menos conspícua ali perto, na ilha de Roda, no meio do Nilo: o Nilômetro.
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As comportas do Nilômetro, construídas 108 anos antes da fundação do Cairo, são os primeiros arcos pontiagudos conhecidos no Egito.
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Construído em 861, o Nilômetro medido a altura da inundação anual do Nilo - uma função importante que previa se o próximo ano traria abundância ou fome. A estrutura é simples: um buraco envolto em pedra de 13 metros (40') no chão, com uma coluna graduada no centro para medir a profundidade da água. Mas, na metade do poço, há um conjunto de recessos abobadados com os mais antigos arcos pontiagudos sobreviventes no Egito.
"Medidas cuidadosas mostram que os arcos pontiagudos destes recessos foram feitos a partir de dois centros separados por um terço do vão", observou de Creswell, em seu estilo caracteristicamente clínico. "Isso quer dizer que esses arcos são aquilo que os arquitetos góticos chamavam de 'ponto de nível', mas eles foram construídos três séculos antes de qualquer exemplo gótico".
Agora bloqueado, os nichos uma vez serviram como comportas para as águas da enchente do Nilo. Os arcos parecem não servir para qualquer função crítica estrutural e eram, portanto, provavelmente decorativos. É possível que o projetista do Nilômetro, o astrônomo persa Abbas Abu'l 'Ahmad ibn Muhammad ibn al-Kathir Farghani, simplesmente tenha incorporado os arcos como uma característica arquitetônica contemporânea. Seja seja o motivo, fica claro que, em meados do século IX, o arco pontiagudo se espalhou, com efeito, por todo o Egito e pelo Magrebe e estaria a caminho para o sul da Itália em cerca de um século depois disso. Mas esta tendência começou mais a leste, de volta ao caminho pelo qual o Islã se espalhou para o oeste a partir da Península Arábica. Uma encruzilhada principal nessa viagem era a terceira cidade mais sagrada do Islã depois de Meca e Medina: Jerusalém.
Domo da Rocha, com o seu brilhante telhado revestido de ouro e azulejos azuis, é um dos edifícios mais famosos do mundo. De fato, é uma sinédoque arquitetônica não só de Jerusalém, mas de todo o Oriente Médio. Junto com a Mesquita Al-Aqsa, ali perto, faz parte do al-Haram al-Sharif, "O Santuário Nobre", a partir do qual os muçulmanos acreditam que o profeta Maomé ascendeu aos céus durante sua milagrosa "Jornada Noturna". Um santuário e não uma mesquita, a estrutura em volta da rocha maciça na qual Maomé partiu para os céus, onde Jesus ensinou e onde os templos de Salomão e Herodes uma vez estiveram.
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lars r. jones / aga khan visual archive, mit
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As pontas dos arcos sobre a colunata interna do Domo da Rocha em Jerusalém, construído entre 688 e 691, são sutis, mas ambos resolveram um problema de arquitetura e ajudaram o início da distinção dos estilos islâmico e bizantino-cristão.
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Embora tanto o seu interior como o seu exterior tenham sido embelezados e restaurados ao longo dos séculos, a estrutura octogonal do Domo da Rocha, com dois anéis concêntricos de colunatas arqueadas circundando a rocha, permanece igual ao que foi decretado pelo califa omíada Abd al-Malik, que a construiu entre 688 e 691. É o mais antigo edifício islâmico do mundo, e dentro dela estão o que alguns dizem ser os mais antigos arcos pontiagudos da arquitetura islâmica.
Yusuf Natsheh, encarregado da arqueologia no santuário, concedeu-me permissão para visitar a estrutura na companhia de Ahmad Taha, diretor do Museu Islâmico de Al-Aqsa. O prédio é conhecido pela sua perfeição matemática: Cada parede externa, por exemplo, é tão longa quanto a cúpula tem de largura e tão alta a partir da base: 20 metros (67 pés). O suntuoso interior está repleto de mosaicos brilhantes, painéis de mármore e madeira pintada, enquanto os arcos da colunata interior, aqueles que suportam a cúpula, são listrados com uma alternância de pedras claras e escuras (ablaq, como na Grande Mesquita de Córdoba e na fachada da catedral de Amalfi), e são, ainda que levemente, pontiagudos. A impressão geral é, na verdade, de um interior bizantino gloriosamente dourado. Taha explicou o motivo.
"Os omíadas importaram cristãos como trabalhadores e administradores", diz ele. "Portanto, há muitos elementos bizantinos, pois os artistas e os trabalhadores que fizeram os mosaicos eram bizantinos, cristãos sírios".
Eram estes os mesmos trabalhadores responsáveis pelos arcos pontiagudos do Domo da Rocha? Possivelmente. O arco pontiagudo não é uma característica comum da arquitetura bizantina, mas tem precedentes sírios, como escreveu Creswell e sugeriu Northedge. Mas por que a sua utilização neste determinado tempo e lugar, eu me perguntava? Ao longo da minha jornada, tinha ouvido tanto motivos práticos como filosóficos para o desenvolvimento do arco. E foi aqui que os dois se uniram.
No nível puramente funcional, os arcos pontiagudos eram uma solução para um problema técnico. Em qualquer colunata circular, as aberturas dos arco na face exterior eram maiores do que aqueles na face interior, porque o raio de um é maior do que o do outro pela espessura da parede. Isto significa que as superfícies do lado inferior dos arcos (o intradorso) inclinam-se para o interior, tornando-os visualmente desequilibrados. Os construtores do Domo da Rocha corrigiram este problema, criando pontas nos lados interiores dos arcos para elevar o intradorso a um nível uniformemente horizontal. (Os construtores evitaram esse problema na colunata exterior tornando-a octogonal. Hoje em dia, os arcos de ambos os lados da colunata interior são pontiagudos, devido a uma restauração posterior.)
No entanto, pode ter havido uma motivação mais profunda. O Domo da Rocha, como historiadores da arte geralmente concordam, era uma declaração do triunfo do Islã sobre (ou, para os muçulmanos, o cumprimento de) tanto o judaísmo como o cristianismo. Isso ficou claro em virtude de sua localização e design. Modelado a partir de igrejas bizantinas em geral, especialmente na próxima Igreja do Santo Sepulcro, o Domo da Rocha tinha a intenção de ser muito superior a todas elas ao mesmo tempo em que definia a nova fé. Uma inscrição proeminente com versículos do Corão (4:171) ressalta diretamente as diferenças teológicas entre o Islã e o cristianismo: "Sabei que Deus é único: Glorificado seja! Longe está a hipótese de ter tido um filho". Em meio a esses ousados pronunciamentos ornamentais, como é que um simples empurrãozinho para cima em um arco fazia uma declaração?
"[T]endo em conta a posição seminal deste edifício no início da história da arquitetura islâmica, precisamos considerar o possível papel da adoção do arco pontiagudo no início do estabelecimento, em termos arquitetônicos, de uma identidade cultural para a nova religião", escreveu o historiador de arquitetura Peter Draper, autor de The Formation of English Gothic.
Seria esta a "estética deliberada" sobre a qual Northedge falou no início da minha jornada? Talvez. Ainda assim, a visão convencional é de que os arcos pontiagudos do Domo da Rocha são de uma época posterior ou, caso sejam originais, foram simplesmente correções pontuais, sem nenhuma importância elevada, como caracterizado por Tabbaa, da nyu-Abu Dhabi. De qualquer forma, acabariam por se tornar "uma característica distintiva" da arquitetura islâmica, de acordo com Draper: uma tendência que pode ter começado aqui em Jerusalém, nas fortalezas longínquas e pousadas de caça dos príncipes Omíadas no deserto oriental da Jordânia, como sugerido por Northedge, ou em um local menos visível, a cerca de 30 quilômetros a noroeste e a 10 metros (30') de profundidade.
oi assim que acabei remando nas águas translúcidas e manchadas de sol da cisterna de Ramla, em um bote de fibra de vidro. A brilhante cabine do bote oferecia os melhores pontos para uma vista de perto dos arcos, aqui erguidos - é o que diz uma inscrição cúfica em uma das paredes - "com as bênçãos de Deus" e pelas ordens do califa Harun al-Rashid, "no mês do Hajj, no ano Cento e Setenta e Dois" (Maio de 789 d.C.). Como tal, a cisterna não é apenas o único monumento abássida remanescente, mas "constitui o primeiro exemplo conhecido do emprego sistemático e exclusivo do arco pontiagudo independente", segundo a própria ênfase de Creswell. Graciosos e perfeitos, os arcos saltam a partir da superfície da água em uma série de alas, formando seis corredores simétricos, como se fosse uma igreja gótica inundada e há tempos esquecida. Uma pena, eu pensei: Todo esse trabalho para algo raramente visto mesmo durante sua época, considerando que a maioria dos visitantes da cisterna vinham apenas para encher baldes de água desde cima ao invés de admirar a obra prima de engenharia abaixo.
Ainda assim, Ramla representou "um novo tipo de linguagem arquitetônica", como Draper a coloca. Embora exemplos anteriores espalhados por todo o Oriente Médio possam ter sido as primeiras expressões dessa nova linguagem, os arcos pontiagudos de Ramla representam suas primeiras frases completamente formadas. Esta linguagem iria crescer e se espalhar ao longo dos séculos seguintes, culminando com a poesia épica arquitetônica das catedrais góticas da Europa medieval.
Na minha busca para estabelecer uma cronologia para o arco pontiagudo, descobri que, enquanto a característica física pode ser traçada de um lugar para outro, sua rota como uma ideia continua sendo difícil de definir. Isso foi porque durante a Idade Média, como Lowry escreveu, "a intensidade dos contatos entre o [Ocidente] e o mundo muçulmano não era estática, mas dinâmica, mudando de um modo de influência artística para o seguinte".
E assim como o Ocidente cristão tinha adotado o arco pontiagudo do Oriente Islâmico, assim também o Islã adquiriu um vocabulário cultural da Pérsia, de Bizâncio, Índia, Ásia, África e mesmo da Europa. Com isto em mente, Natsheh resumiu a história da arte islâmica para mim ao citar seu ex-professor (e rival acadêmico contemporâneo de Creswell), o falecido Ahmad Fikri.
"Os estudantes de arte islâmica pensam nela como uma criança inteligente e bonita", disse ele, sorrindo. "Mas os olhos desta criança são de Roma, suas mãos são da Pérsia, suas pernas são do Egito Copta. E assim, todos esses elementos se misturaram, chegando a um menino bom e inteligente".
Se assim for, um dos movimentos mais profundos da história da arte - o gótico - deve seus genes a esta inteligente criança.
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O escritor freelancer Tom Verde (writah@gmail.com), um frequente contribuinte a Saudi Aramco World, possui um mestrado em Estudos Islâmicos e relações Cristão-Muçulmanas. Ele dedica esta história à memória do seu mestre, conselheiro, mentor e amigo, o falecido Ibrahim Abu-Rabi, com quem partilhou muitas viagens. |
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