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"Um quilo de sementes produz 5,5 milhões de plantas", explica Abu Kassem, acima, enquanto junta amostras da erva za'tar, ou tomilho selvagem, de um de seus campos no sul do Líbano, cuja colheita é feita à mão com uma foice. Direita: Retirando o za'tar dos ramos
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"Minha mala não está acima do peso!", explicou a mulher jordaniana na minha frente para o atendente no check-in do aeroporto em Amã. Para mostrar que estava certa, ela tirou da mala uma bolsa de plástico grande, cheia de folhas secas esmagadas. "Isso não é peso extra! É za'tar, estou levando para meus parentes."
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Acima, na parte de baixo: Esmagadas e peneiradas, as folhas de za'tar, à direita, estão prontas para serem misturadas a sementes de gergelim (esquerda) e frutos não esmagados de sumagre (topo).
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Embora o atendente tenha cobrado por excesso de bagagem, ele expressou sua simpatia, entendendo - como muitos árabes - que o za'tar não é um extra, mas sim algo essencial. Mesmo assim, a mulher estava muito mais calma do que o australiano-libanês que se destacou nas notícias locais quando os oficiais da alfândega de Brisbane confiscaram as bolsas de za'tar de sua sogra. Ele disse que isso era "uma tragédia" e "um desastre" e pediu pra falar com um membro do parlamento. Realmente, não é nem o humus nem o falafel que os árabes levam em suas malas para levar junto consigo o sabor de sua casa: é o za'tar. E fazem isso com paixão.
A palavra árabe za'tar (zaah-tar) significa duas coisas: É o nome de uma erva que cresce principalmente nas colinas do Mediterrâneo oriental e, mais importante, é o nome de uma mistura desta erva com sementes de gergelim e outros temperos - uma combinação feita com a mistura da nostalgia com a necessidade. Consumido como um molho junto com azeite, o za'tar é um ingrediente onipresente nas mesas de café da manhã no Líbano, Jordânia, Síria e Palestina. "Não tínhamos nada para comer a não ser za'tar e azeite" é uma expressão que significa "tínhamos somente o básico". Hoje em dia, o za'tar também tem muito simbolismo e identidade, mostrando as caras na arte e na música, como na colaboração do poeta Mahmoud Darwish e do compositor Marcel Khalife, "Ahmed Al Arabi," na qual o za'tar representa o lar e a força interior. A mistura também pode ser encontrada em restaurantes modernos que atraem pessoas com o conforto implicado pelo nome, como a cadeia Za'tar wa Zeit, que começou no Líbano e se expandiu para vários outros países árabes.
Infelizmente, não há uma tradução direta para o za'tar em inglês, embora seja muitas vezes chamado de tomilho selvagem. "Mais do que uma espécie, é um sabor," explica Jihad Noun, um perito em espécies de plantas medicinais e aromáticas do Líbano. Ele se anima quando o assunto é za'tar.
"Existem 22 espécies de ervas que são chamadas de za'tar na região. São os óleos essenciais que têm em comum. Todas vêm da mesma família Lamiaceae, da menta, que inclui também a segurelha, o orégano e o tomilho. Pessoalmente, posso comer o za'tar a qualquer momento. O za'tar é aquilo que abre nosso paladar."
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Com múltiplas variedades de tomilho selvagem e um número infinito de combinações de ingredientes disponíveis para o za'tar, Abu Kassem prepara a sua própria combinação favorita. |
As misturas de za'tar variam conforme a região - e até mesmo de loja para loja e de casa para casa. Quase todo mundo tem uma opinião sobre onde encontrar a melhor mistura - e, geralmente, trata-se de sua própria cidade natal.
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As principais lojas de temperos, como a Izhiman, em Amã, oferecem mais de uma dúzia de variedades. "Vendemos cinco toneladas de za'tar por mês, diz o gerente executivo Naser Matouq."
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O maior produtor nacional e exportador de za'tar é a Jordânia. Em Suweifeh, um alegre bairro de compras de classe média de Amã, Izhiman e Kabatilo são as duas lojas principais de uma rua famosa por seus congestionamentos. Embora a Izhiman tenha começado em Jerusalém, em 1893, especializada em café, e a Kabatilo tenha se especializado em temperos, ambas são igualmente famosas por seus za'tars. A Kabatilo oferece 12 tipos diferentes, com as quatro principais misturas em um local de destaque perto do caixa. Este za'tar de destaque chega à Jordânia vindo das colinas da Cisjordânia, onde produtores dos arredores das aldeias de Jenin, Tulkarem e Qaliqiya coletam o za'tar selvagem no final da primavera. Os outros za'tars na Jordânia vêm de campos cultivados.
"O za'tar selvagem da montanha é muito picante, normalmente muito forte por conta própria, mas o za'tar na Jordânia é cultivado em terra plana, é mais barato e menos saboroso", explica Naser Matouq, gerente executivo e membro da quarta geração de sua família que trabalha na Izhiman.
Essa loja oferece sete misturas de za'tar, todas feitas de za'tar palestino ou jordaniano e expostas em caixas de madeira onde o "gerente do za'tar" ajuda clientes a prová-los e escolher. Ele irá, a pedido, adicionar sumagre, sementes de gergelim ou sal para ajustar uma das misturas às preferências de um cliente exigente, antes de selar os sacos de plástico. A mistura original é chamada de Za'tar Real: za'tar, sumagre e sementes de gergelim, todas em proporções medidas. Uma opção menos cara é adicionar trigo defumado, fazendo com que o za'tar dure mais. No entanto, a maior procura é por Za'tar Especial, que inclui za'tar, sumagre, gergelim, trigo torrado, coentro, cominho, sementes de funcho, endro e sal.
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Acima: Pães árabes com uma pasta de za'tar e azeite se tornam mana'esh, "a principal comida caseira com za'tar", preparada acima na Izhiman, onde a produção do padeiro encontra imediatamente consumidores ansiosos, acima. |
"Somente na Jordânia, vendemos cinco toneladas de za'tar em um mês", diz Matouq. "É bastante parte daquilo que somos. Todas as nossas mães costumavam nos fazer comer sanduíches de za'tar antes das provas, porque todo mundo acredita que o za'tar lhe torna mais inteligente."
Logo nos arredores de Amã, as instalações produtivas da Izhiman dedica dois andares totalmente à produção de za'tar. Sacos de tecido branco com folhas secas de za'tar da Cisjordânia lotam uma sala de prateleiras - longe da luz solar, que pode degradar os óleos naturais do za'tar. Trabalhadores peneiram o za'tar três ou quatro vezes manualmente, em pequenas quantidades, para remover galhos ou detritos; em seguida, colocam a erva em uma máquina especial para esmagá-la. O za'tar é quase sempre misturado com sumagre, um fruto cultivado na região, que sofre um processo semelhante, adquirindo uma coloração marrom vibrante à medida que sua casca e sementes são separadas. O tempero - diferente do sumagre venenoso norte-americano - adiciona um sabor azedo, semelhante ao limão, à mistura. "Quarenta e sete por cento do sumagre é perdido, pois só usamos sua parte externa e não a semente", diz Matouq. "Mas vale a pena. O za'tar barato é misturado com ácido cítrico ao invés disso, o que não aceito, seja pelo gosto ou pela aparência.
"Sementes de gergelim não faziam parte da mistura, mas agora é raro deixá-las de fora", acrescenta. "Usamos sementes de gergelim locais em todas as misturas de za'tar, exceto naquelas destinadas ao mana'esh. Em nossa mistura para mana'esh, usamos sementes etíopes ou sudanesas, que são menores mas têm menos chances de queimar."
O mana'esh é a principal comida caseira com za'tar: um pão sírio com uma pasta de za'tar e azeite, melhor servido saindo quente de um forno a lenha. Pode não haver maior experiência de mana'esh do que parar nas pequenas aldeias de montanha que pontilham a espinha dorsal do Líbano, onde você encontra padarias familiares que fazem mana'esh na hora, usando a sua própria mistura de za'tar ou, se você preferir, aquela que lembrou de trazer de casa. Alguns preferem a massa crocante e fina como papel; outros a preferem grossa e macia.
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Com a ajuda de especialistas de longa data como Abu Kassem, abaixo, Barbara Abdeni Massaad, de Beirute, pesquisoueste "ícone para os libaneses, um modo de vida" em todo o país, desde o mana'esh rústico feito em forno a lenha em Nabatiyah, à esquerda, até a geometria culinária urbana no moderno restaurante Za'tar wa Zeit (Za'tar e Azeite) em Beirute, à direita. |
"Fazemos o nosso grosso, para que segure mais da mistura", diz o padeiro Nabil Kamal Eldin, da cidade de Batloun. Sua filha Sara tira a massa e cobre-a com azeite e za'tar, enquanto ele maneja o forno a lenha. O za'tar torna-se marrom escuro enquanto é assado e o sabor se transforma em suave, salgado, picante e com toques de limão.
"O man'oushé é um ícone para os libaneses, um modo de vida," diz Barbara Abdeni Massaad, utilizando o singular libanês de mana'esh. "Quando alguém volta para o Líbano, o que querem comer é man'oushé." Em 2005, Massaad publicou Man'oushé: Inside the Street Corner Lebanese Bakery, contendo 70 receitas e fotografias. Nascida no Líbano, ela passou vários anos de sua adolescência na Flórida, trabalhando no restaurante de comida do Oriente Médio pertencente a seu pai. Após voltar ao Líbano, onde se casou e teve três filhos, ela decidiu combinar suas paixões pela comida e pela fotografia e produzir um livro. "Minha comida favorita era pizza," ela lembra, "então pensei em fazer uma pesquisa sobre pizza. Então acordei uma noite e pensei na "pizza libanesa", o man'oushé. Por que estava pensando na Itália sem bem aqui temos o man'oushé? Então, passei a visitar quantas padarias do Líbano podia - e foram cerca de 250 padarias."
No caminho, ela descobriu alguns mana'esh especiais, incluindo alguns que levam pasta de pimenta Aleppo ou nozes moídas na mistura de temperos. Porém, Massaad também acredita na experiência de fazer mana'esh em casa, com seus filhos. Ela aprendeu algumas dicas para assá-los em casa com padeiros profissionais. "A chave para se fazer um bom man'oushé é ter a mistura de za'tar correta e assar em uma temperatura alta. Você não deve usar o melhor za'tar para man'oushé. O melhor za'tar pode ser tornar bem amargo quando cozido. Padeiros também economizam ao misturarem os temperos com óleo vegetal, ao invés de apenas azeite. Há, na verdade, uma certe leveza criada com essa prática, mesmo que o azeite seja mais precioso."
Desde que escreveu Man'oushé, Massaad conseguiu seu próprio programa na TV, "Helwi Beirut" ("Doce Beirute"), e se tornou uma figura presente no movimento slow food libanês. Explorar a cultura culinária libanesa com sua câmera e seu veículo com tração nas quatro rodas a levou até Zatwar, uma vila no sul do Líbano com exuberantes campos verdes até onde a vista alcança. Esta vila é o lar de Mohammed Ali Naami, um fazendeiro mais conhecido como Abu Kassem. Ele costuma ganhar a vida colhendo za'tar nas montanhas sobre o rio Litani. Hoje, ele só vai para as montanhas para buscar a paz que o som do rio lhe traz.
Comendo um café da manhã com feijão, azeitonas e za'tar junto a sua família em uma mesa do lado de fora de sua casa, ele pode ver alguns dos dois hectares de campos que cultiva com sementes de za'tar selvagem. Filho de um plantador de fumo, teve que abandonar a escola quando tinha 13 anos. Hoje, Abu Kassem faz parte de uma das histórias de sucesso de um programa das Nações Unidas para reviver a economia sul do Líbano após a retirada israelense em 2000.
"Um quilo de sementes produz 5,5 milhões de plantas", Abu Kassem explica enquanto caminhamos por plantas de za'tar, que explodem com aroma quando uma folha é rasgada. "Na natureza, eu só recolhia za'tar uma vez por ano; agora, posso ter quatro ou cinco safras por ano. Nunca estive em nenhum lugar antes, mas agora fui para a Itália e Jordânia e até para a Líbia, para falar sobre como cultivar um za'tar tão bom quanto o selvagem. O Za'tar deu tudo a mim e à minha família."
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Grande parte do sul do Líbano "era uma área muito dependente da cultura do tabaco, o que não é exatamente bom para o solo, caro e perigoso para as mulheres e crianças que muitas vezes ajudam a processar as folhas", diz Carol Chouchani Cherfane. Ela trabalha em Beirute para Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia Ocidental, que fez o estudo sobre o sul do país. "Nós percebemos que o za'tar era uma cultura viável, especialmente por estar junta ao sumagre, que era outra cultura viável para a região. E o za'tar é resiliente."
Jihad Noun também trabalhou no projeto. "Não é sustentável, para o agricultor ou a cultura, depender da cultura selvagem", explica ele. "Há um mercado crescente para o za'tar, e a natureza não pode suportar isso sozinha sem danificar o habitat natural. Quando os agricultores usam as sementes, eles criam o mesmo gosto, mas sem danos."
Noun também está trabalhando para padronizar as misturas de za'tar no Líbano, já que é um cash crop para importação e exportação. "Muitos fatores afetam o sabor do za'tar. Na Jordânia, por exemplo, o za'tar é colhido mais cedo do que no Líbano - na primavera, ao invés do verão - por causa das condições mais secas; isso altera o seu sabor e sua cor. Quanto sal é permitido na mistura, quais são os aditivos admissíveis, qual é a porcentagem de sementes de gergelim e de sumagre - todas estas questões devem ser levantadas. Existem leis para a padronização no Líbano, Síria e Jordânia, mas não há nenhuma entidade que meça efetivamente o cumprimento destas."
Abu Kassem - juntamente com gerações de avós e outros agricultores - conta rapidamente aos visitantes que o za'tar não é apenas comida - é um remédio. Ele acredita que a erva pode curar gripe, eczemas, cólicas menstruais, resfriados, dores de estômago, nervos e muito mais. A história, misturada com a tradição, está aí para apoiá-lo. "Nos textos medievais da região, acreditava-se que o za'tar curava indigestão, flatulência, congestão e mau hálito", diz Juan E. Campo, que, juntamente com sua esposa, Magda, ensina história da comida do Oriente Médio na Universidade da Califórnia - Santa Barbara. "De fato, produtos como o Listerine hoje incluem timol, que é um derivado do mesmo tipo de planta. Em um antigo texto assírio, seu cheiro supostamente ressuscitou um epiléptico."
O poder do za'tar também foi registrado na Bíblia: "O Salmo 51, versículo 7, diz: 'Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve'", explica Noun. "Hissopo era a palavra antiga para za'tar", diz ele, acrescentando que muitas vezes a erva ainda é usada em missas no Líbano.
O za'tar também possui muitas incarnações culinárias. Certas variedades são marinadas em vinagre e outras são muitas vezes consumidas frescas, com fatias de queijo, embora nunca possam competir com a portabilidade e a longevidade da mistura seca. O za'tar viajou com trabalhadores convidados do Levante para outros países árabes, especialmente aos da Península Arábica, onde as padarias, dirigidas por jovens libaneses, sírios e palestinos, produzem agora mana'esh tão bom como qualquer outro em suas terras natais. "Recebo correspondência de todo o mundo com histórias pessoais sobre o za'tar", diz Barbara Massaad, autora de Man'oushé. "Padarias na Polinésia, Austrália e França me contaram que estão fazendo mana'esh por causa da popularidade que ganhou graças aos imigrantes daqui."
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Em grandes comunidades etnicamente árabes nos EUA, o za'tar está amplamente disponível em mercearias do Oriente Médio nas vizinhanças. Mas você não pensaria em encontrá-lo nas Grandes Planícies no centro dos EUA —terras colonizadas por imigrantes noruegueses e alemães, onde os invernos brutais são um nítido contraste com o tempo quente e ensolarado do qual o za'tar necessita para crescer. No entanto, se você entra no Sanaa's, um restaurante em Sioux Falls, Dakota do Sul, você encontrará o mana'esh como um dos pratos principais de seu popular buffet de sábado. Na sua frente, na fila, podem estar pessoas de dois grupos distintos de árabes-americanos locais e ainda mais dos descendentes daqueles alemães e noruegueses.
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Jay Pickthorn |
Sanaa Abourezk atraiu primeiro clientes para seu agora popular restaurante em Sioux Falls, Dakota do Sul, salpicando azeite e za'tar em biscoitos Pillsbury. "Os clientes chamavam de 'pão marrom'", lembra ela.
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Jay Pickthorn |
Todos os sábados, Sanaa Abourezk começa a fazer ela mesma a massa para mana'esh. Natural da Síria, ela veio para os EUA para fazer um doutorado em plantio de frutas cítricas. Ela já tinha um diploma em engenharia agrícola - um sonho de seu pai, para que ela pudesse ajudar a gerenciar e melhorar a fazenda de sucesso da família na Síria. Mas sua alma estava na cozinha, e o destino quis levá-la nessa direção. Vinte anos atrás, ela conheceu e se casou com o ex-senador James Abourezk, um americano-árabe, que voltou à sua terra natal, Dakota do Sul, depois de se aposentar da política em Washington no ano de 1979. Por um tempo, Sanaa estava feliz escrevendo livros de receitas nos quais destacava uma comida do Oriente Médio saudável, principalmente vegetariana, e criando sua filha, Alya, hoje com 15 anos. Então, um dia, há sete anos, ela viu um armazém ao longo dos trilhos de trem que estava sendo transformado em espaço de varejo. Mesmo sem realmente ter um menu planejado, ela decidiu partir rumo a seu sonho, abrindo então um restaurante que, inicialmente, servia sopa e biscoitos assados Pillsbury com uma leve pitada de azeite e za'tar.
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"As pessoas amavam," lembra Sanaa. "Os clientes chamavam de 'pão marrom,' e logo já estava fazendo minha própria massa. À medida que o menu crescia, o pão marrom se tornou uma necessidade apreciada nele."
Mas, é claro, não é pão marrom para todo mundo: As Dakotas realmente têm uma longa história de imigração árabe, com muitos vindo nos anos 1890, quando a área se tornou a última região onde um imigrante pobre poderia receber 160 acres (65 hectares) de terra livre de acordo com a Lei de Propriedade Rural de 1864 - desde que estivesse disposto a suportar os invernos. Outros imigrantes árabes ainda vieram como "mascates da pradaria", itinerantes que vendiam aos colonos, e alguns deles acabaram por abrir seus próprios armazéns. Na verdade, o marido de Sanaa nasceu em uma reserva indígena, onde seus pais libaneses tinham uma loja.
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Jay Pickthorn |
Abourezk guarda seu melhor za'tar em um freezer, e muitas vezes faz ela mesma os mana'esh, à direita.
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"Havia uma outra família árabe, os Abnors, que viviam cerca de uma hora de nós, e todos os domingos nos juntávamos para o jantar", lembra o senador. "Pedíamos nossa comida árabe, incluindo o za'tar, no Sahadis, em Nova York, e esta era enviada a nós. Além das folhas de parreira, que minha mãe costumava colher, a comida que mais me lembro é o za'tar. "
O ex-senador tem sua própria mesa no Sanaa's, onde ele pode ser encontrado todos os dias, e onde políticos aspirantes e empresários locais agarram assentos para compartilhar notícias sobre política e fofocas. Membros da comunidade árabe de Sioux Falls param para contar suas próprias experiências com o za'tar.
"Eu amava o za'tar, mas eu não queria que minha avó fizesse quando tinha outras crianças junto", lembra o historiador e escritor Mike Saba, cujos avós foram colonos. "Eu tinha uma espécie de vergonha do za'tar. Eu não queria que as crianças perguntassem 'O que é que o pão sujo que você está comendo?' - pois é isso o que parecia ser para os outros."
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Jay Pickthorn |
Filho de imigrantes libaneses merceeiros em uma reserva indígena, o senador dos EUA James Abourezk, sentado, no centro, aposentado desde 1979, frequentemente passa algumas horas do dia no restaurante de sua mulher.
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Recém-chegados a Sioux Falls vindo de países árabes, a maioria médicos e engenheiros, ainda voltam regularmente ao Levante para visitar seus pais e outros parentes. Todos eles trazem de volta za'tar, já que sobrevivem sem uma mercearia do Oriente Médio na cidade. A libanesa-palestina Salwa Koutally, uma das amigas íntimas de Sanaa, traz za'tar para todos os seus filhos adultos e, quando ela faz mana'esh, ela envia alguns por correio expresso para o filho em Nova York. Um médico que mora em Sioux Falls há 15 anos diz: "Minha irmã sempre prepara za'tar para trazer quando vou visitá-la", explicando que isso é porque "minha aldeia tem o melhor za'tar." "Não, não tem", exclama um outro cliente. "Todos sabem que a minha vila tem!" E então, não pela primeira vez, uma briga bem-humorada se incia sobre de onde vem o melhor za'tar.
"O za'tar pode ser uma coisa muito pessoal", diz Sanaa, sorrindo. "Ë particular. Algumas pessoas têm seu próprio estoque de vinho; eu tenho meu próprio estoque de za'tar." O za'tar do restaurante, ela conta, vem da Jordânia, por meio de seu fornecedor de comidas do Oriente Médio em Nova York. No entanto, escondido em seu freezer, está um saco de plástico de folhas secas de za'tar das montanhas da Síria. Seu aroma cítrico e amadeirado lhe atinge logo que abre a bolsa. Também colocado no freezer está uma de suas misturas favoritas de za'tar de Damasco. Com este, o cheiro de anis é inconfundível. "O que eu adoro no za'tar são as pequenas surpresas que fazem de cada mistura única", diz Sanaa. "Por exemplo, às vezes as pessoas adicionam alecrim, pimenta malagueta, cominho ou sementes de funcho."
Sanaa prefere o za'tar de sua mãe, que contém grão de bico torrado e moído. "O grão de bico era adicionado quando as pessoas não podiam pagar o za'tar puro", diz Sanaa. "Na verdade, foi uma boa decisão, porque o grão de bico adiciona proteína, tornando nosso café da manhã ainda mais nutritivo."
O "pão marrom" de Sanaa é vendido hoje em dia na cooperativa local. "Ele chega na tarde de quinta-feira e sexta-feira já acabou", diz Molly Langley, gerente da loja. Ele é, ela acrescenta, "um passo à frente para os conhecedores de comida que procuram opções únicas e deliciosas." Sanaa também criou outras maneiras de servir o za'tar. Nas sextas à noite, ela coloca como cobertura em seus "pães marrons" tomate, cebola e uma mistura de pimenta para um toque e cor especiais e adiciona za'tar em sua salada fattoush. "O za'tar fornece o mesmo sabor e as sementes de gergelim adicionam uma textura extra", explica ela.
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De volta ao Levante, uma criatividade semelhante está borbulhando. No passado, o za'tar era principalmente para se mergulhar no azeite, para espalhar sobre mana'esh ou para polvilhar sobre os anéis de pão de gergelim vendidos por vendedores ambulantes. Hoje em dia, o za'tar saltou do mana'esh e foi parar em croissants, em amêndoas tostadas e em praticamente qualquer outro lugar onde pode ser salpicado. Em Amã, em frente ao Izhiman, a Sufara, uma padaria gigante, parece colocar za'tar em tudo o que sai de seus fornos - pães, bolos, biscoitos e bolachas. Em Beirute, qualquer supermercado de luxo dispõe de uma variedade crescente de produtos que contenham za'tar.
"Quando eu disse que ia escrever um livro sobre a man'oushé, as pessoas achavam que eu era estranha, mas eu acho que foi muito bem-sucedido porque retratava quem somos", diz Barbara Massaad. "O za'tar traz sorrisos."
"O za'tar é uma importante identidade regional," diz Carol Cherfane. "É o grão do oriente médio. Olhe para estas coisas que arrumei no aeroporto de Beirute ontem." Ela oferece uma lata de petiscos crocantes - uma nova criação com za'tar. De um forma ou de outra, o za'tar sempre parece encontrar seu caminho para o aeroporto e para mais além.
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Direita: Jay Pickthorn |
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Direita: Jay Pickthorn |
Topo, esquerda para a direita: Nabil Kamal Eldin coloca mana'esh em seu forno de padaria em Batloun, Líbano, da mesma maneira como o faz Sanaa Abourezk em Sioux Falls. Acima: Izhiman e outras lojas de especiarias oferecem degustação e uma personalização da mistura de za'tar; Sanaa inclui o seu popular "pão marrom" em sua linha de buffet. Mana'esh à venda em Amã, abaixo à esquerda, e em Sioux Falls, abaixo à direita.
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Direita: Jay Pickthorn |
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Alia Yunis (www.aliayunis.com) é escritora e produtora de filmes baseada em Abu Dhabi. Ela é a autora do romance aclamado pela crítica The Night Counter (Random House, 2010). |
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O fotógrafo e escritor Tor Eigeland (www.toreigeland.com) cobriu eventos ao redor do mundo para a Saudi Aramco World e outras publicações e contribuiu com dez projetos de livros da National Geographic Society. |
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